terça-feira, 31 de julho de 2007

Desapego

Vivemos uma época de celebridades, apelos fáceis à riqueza, ao consumismo, às paixões avassaladoras. Transitamos aturdidos por um mundo em que o destaque vai para aquele que mais tem.E a todo instante os comerciais de televisão, os anúncios nas revistas e jornais, os outdoors clamam: “Compre mais. Ostente mais. Tenha mais e melhores coisas”.
É um mundo em que luxo, beleza física, ostentação e vaidade ganharam tal espaço que dominam os julgamentos.
Mede-se a importância das pessoas pela qualidade de seus sapatos, roupas e bolsas.
Dá-se mais atenção ao que possui a casa mais requintada ou situada nos bairros mais famosos e ricos.
Carros bons somente os que têm mais acessórios e impressionam por serem belos, caros e novos. Sempre muito novos.
Adolescentes não desejam repetir roupas e desprezam produtos que não sejam de grife.
Mulheres compram todas as novidades em cosméticos. Homens se regozijam com os ternos caríssimos das vitrines.
Tornamo-nos, enfim, escravos dos objetos. Objetos do desejo que dominam nosso imaginário, que impregnam nossa vida, que consomem nossos recursos monetários.
E como reagimos? Será que estamos fazendo algo - na prática - para combater esse estado de coisas?
No entanto, está nos desejos a grande fonte da nossa tragédia humana. Se superarmos a vontade de ter coisas, já caminhamos muitos passos na estrada do progresso moral.
Experimente olhar as vitrines de um shopping. Olhe bem para os sapatos, roupas, jóias, chocolates, bolsas, enfeites, perfumes.
Por um momento apenas, não se deixe seduzir. Tente ver tudo isso apenas como são: objetos. E diga para si mesmo: “Não tenho isso, mas ainda assim eu sou feliz. Não dependo de nada disso para estar contente”.
Lembre-se: é por desejar tais coisas, sem poder tê-las, que muitos optam pelo crime. Apossam-se de coisas que não são suas, seduzidos pelo brilho passageiro das coisas materiais. Deixam atrás de si frustração, infelicidade. Revolta.
Mas, há também os que se fixam em pessoas. Vêem os outros como algo a ser possuído, guardado, trancado, não compartilhado.
Esses se escravizam aos parceiros, filhos, amigos e parentes. Exigem exclusividade, geral crises e conflitos.Manifestam, a toda hora, possessividade e insegurança. Extravasam egoísmo e não permitem ao outro se expressar ou ser amado por outras pessoas.
É, mais uma vez, o desejo norteando a vida, reduzindo as pessoas a tiranos, enfeando as almas.
Há, por fim, os que se deixam apegar doentiamente às situações.
Um cargo, um status, uma profissão, um relacionamento, um talento que traz destaque. É o suficiente para se deixarem arrastar pelo transitório. Esses amam o brilho, o aplauso ou o que consideram fama, poder, glória.
Para eles, é difícil despedir-se desse momento em que deixam de ser pessoas comuns e passam a ser notados, comentados, invejados.
Qual o segredo de libertar-se de tudo isso. A palavra é desapego. Mas... Como alcançá-lo nesse mundo? Pela lembrança constante de que todas as coisas são passageiras nessa vida. Ou seja: para evitar o sofrimento, a receita é a superação dos desejos.
Na prática, funciona assim: pense que as situações passam, os objetos quebram, as roupas e sapatos se gastam.
Até mesmo as pessoas passam, pois elas viajam, se separam de nós, morrem... E devemos estar preparados para essas eventualidades. É a dinâmica da vida.
Pensando dessa forma, aos poucos a criatura promove uma auto-educação que a ensina a buscar sempre o melhor, mas sem gerar qualquer apelo egoísta.
Ou seja, amar sem exigir nada em troca.
Autor desconhecido
*
Hoje estou cansada de tudo isso. E só.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Quando eu ficar velha

Quando ficar velha, quero usar púrpura
Com chapéu vermelho, que não combina
e fica ridículo em mim
Vou gastar o dinheiro que tenho em uísque,
usarei luvas no verão,
e me queixarei que falta manteiga em casa
Vou sentar-me no meio- fio quando estiver cansada,
comerei todas as ofertas do supermercado,
tocarei as campainhas dos vizinhos,
arrastarei meu guarda-chuva nas grades da praça,
e só assim me sentirei vingada por ter sido tão séria durante a juventude.
Vou andar de chinelos,
arrancar flores do jardim dos outros,
e cuspir no chão.
Vou usar roupas horríveis, engordar sem culpa,
comer um quilo de salsichas no almoço,
ou passar uma semana só na base do pão e picles.
Vou juntar caixinhas, lápis, e rótulos de cerveja.
Mas, enquanto ainda sou jovem,
preciso de um tipo de roupa que me deixe seca em caso de chuva,
tenho que pagar o aluguel,
não posso dizer palavrão na rua,
sirvo de exemplo para a infância,
preciso ler jornal, estar informada,
convidar meus conhecidos para jantar.
Por isso, quem sabe
eu deveria começar a treinar desde agora?
Assim ninguém vai ficar chocado
quando de repente, eu ficar velha
e começar a usar púrpura
Jenny Josephy

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Animação Vida Maria ganha as telas do Brasil

O curta-metragem de Márcio Ramos retrata a difícil vida das mulheres nordestinas

* Texto que escrevi publicado na Revista Paradoxo.


A mão segura firme a caneta. Desenha uma reta, acrescenta um pingo, trêmulamente vai dando forma às letras do alfabeto até surgir o nome. Aos cinco anos, Maria José já tem a existência traçada: deixa os estudos para trabalhar, crescer, casar, ter filhos e envelhecer.
A cena descrita, tão real no dia-a-dia de centenas de mulheres, é a animação Vida Maria de Márcio Ramos que retrata a dura vida das sertanejas condenadas, geração após geração, a largar os sonhos da infância para trabalhar.
Com rigor estético impressionante, a câmera passeia pelo rosto da personagem enquanto soca o pilão e mostra, gradativamente, seu envelhecimento. Enquanto trabalha, Maria se casa, muda sua forma física duas, três, sete vezes, vela o corpo do marido e vê repetir a mesma história na vida de tantas outras Marias.
Produzido em computação gráfica 3D, o curta-metragem mostra personagens e cenários modelados com texturas e cores, consegue retratar com exatidão a paisagem nordestina a partir de pesquisas no Sertão Cearense, no Nordeste do Brasil.
Após ser considerado o melhor curta do 17º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, ter destaque no 15º Anima Mundi e ser premiado pelo país afora, o recente título de Ramos faz parte da sessão de curtas do 2º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que acontece de 23 a 29 de julho, com sessões gratuitas no Memorial da América Latina, Cinesesc e na Sala Cinemateca. Com 120 filmes na programação e curadoria de João Batista, o Festival tem por objetivo discutir a singularidade estética da cinematografia latino-americana.
Além da exibição de filmes, organizados em sete sessões, o público também acompanha um ciclo de debates com a realização de sete mesas redondas a partir do dia 25 (quarta-feira), no mini-auditório do Memorial da América Latina. Com destaque na edição deste ano, o principal convidado e grande homenageado do Festival é o cineasta mexicano Paul Leduc, que participa do debate agendado para o dia 28 de julho (sábado, às 14h).
Não só para fãs de animação, mas para o público em geral, o Festival é um ótimo canal para discutir, repensar e abrir novos caminhos para a produção latino-americana.

Vida Maria
.....................
[Brasil, 2006]
Direção: Márcio Ramos
Gênero: Animação
Duração: 08'34"
Quando: 29/07 [domingo], a partir das 18h
Local: CineSesc – Rua Augusta, 2075, Jardins - São Paulo - 329 lugares
Entrada franca
Veja no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=6-1CjDCmEiM
Mais informações sobre o 2º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo aqui.




sábado, 21 de julho de 2007

Numa rua do centro da cidade

- Está apaixonada?
- Não. Só se for por eu mesma. E você, está apaixonado?
- Isso é uma questão filosófica. Pode-se estar apaixonado pelos ideais, sonhos, pela vida...
- É verdade. Se depender de ideais eu estou apaixonadíssima.
- Quais são?
- Sou recém-formada, tenho uma infinidade de sonhos na minha área, ainda tenho muito que conquistar...
- Já reparou que a maioria das pessoas lutam para ser exploradas? Pra ficarem presas a certos papéis?
- É... E ainda lutam por isso. Ainda lutam...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Negros do Rio Grande do Sul

Augusto Pain é um jornalista gaúcho. Desenvolve pesquisas sobre jornalismo em quadrinhos e gosta da cultura afrobrasileira. O texto abaixo foi escrito por ele para um concurso de Jornalismo Cultural.
Negros do Rio Grande do Sul
O menino-escravo perde um cavalo da estância e, como castigo, é torturado por seu patrão até quase morrer, sendo salvo por Nossa Senhora. É o que conta a lenda do Negrinho do Pastoreio, uma das mais conhecidas no Rio Grande do Sul, onde o herói é negro e o vilão é branco. Um reflexo da situação dos negros do extremo sul do Brasil no século XVIII, quando o trabalho escravo era utilizado para a produção de charque. O primeiro recenseamento, feito em 1780 pelo tenente Córdova, apontava a existência de mais de 5 mil negros, o equivalente a 28,4% da população gaúcha na época.
A professora de Comunicação Rhéa Sylvia Gartnër, que estuda a África há mais de 30 anos, especifica a origem desses povos: “Os africanos e descendentes entrados à força no Rio Grande do Sul, de 1737 a 1853, pertenciam a duas culturas: a sudanesa e a banto. Eles se denominavam genericamente de Angolas, Congos, Minas e Moçambique”. Segundo Gartnër, porém, existe registro da presença africana no estado já em 1635, antes do início da colonização portuguesa. Isso se deve ao fato de a região do Prata ter feito parte da rota do tráfico negreiro promovido pelos espanhóis.
Mais tarde, os afro-gaúchos participaram da Revolução Farroupilha (1835-1845) no Corpo dos Lanceiros Negros, escravos que pegaram nas armas com a promessa de alforria ao fim do conflito. Pelos cálculos do exército imperial, os negros compunham de um terço à metade de todo o contingente do exército rebelde.

O afro-gauchismo

Atualmente, segundo o IBGE, apenas 5,3% da população do Rio Grande do Sul se auto-declara de cor preta. Ainda assim, é o maior percentual da região Sul do Brasil.
Esse branqueamento se deve principalmente à imigração alemã e italiana no século XIX, além da chegada de poloneses e judeus ao estado no século XX.
Segundo o tradicionalista Chico Sosa, que estuda a origem dos elementos da cultura sul-riograndense, o gaúcho primitivo, também conhecido como pêlo-duro, é resultado da mistura dos índios com os espanhóis na Região do Prata. O hábito de se tomar chimarrão, aliás, é herdado dos índios, sendo que a palavra “cimarron”, que deu origem ao termo, é espanhola e quer dizer xucro, bárbaro, bruto. Sosa afirma, porém, que as influências africana e indígena na cultura gaúcha se confundem.
Os negros ingressaram no Rio Grande do Sul no século XVII e, com isso, passaram a participar do processo de sincretismo que veio a formar a cultura gaúcha. Segundo Sosa, toda a percussão da música tradicionalista sul-riograndense tem influência do ritmo africano. Como exemplos, a “vanera”, que é uma dança cubana que foi pra Espanha e depois chegou ao estado como “vanerão”, e a “polca”, que é de origem polaca mas pegou influência africana. Outra dança típica, a “milonga”, tem sua nomenclatura originada no verbo “milonguear”, que significava “falar” para os negros que formaram a cultura gaúcha.
No livro O Linguajar do Gaúcho Brasileiro, o historiador Dante de Laytano aponta mais alguns desses africanismos lingüísticos em palavras como “angico” (árvore), “banzo” (tristonho, pensativo), “bocó” (pessoa tola), “bugiganga” (coisa pequena, insignifcante), “caçula” (filho mais moço), “cafundó” (lugar distante), “cambada” (corja de desordeiros), “japona” (casaco de pano grosso) e “marimbondo” (inseto), dentre outros.
Também existem estudos que afirmam uma forte presença da prática de religiões de origem africana no estado. O batuque e a umbanda são praticados até mesmo em cidades colonizadas por alemães e italianos.
A professora Gartnër, que possui a maior biblioteca sobre o continente africano do estado, dá exemplos da contribuição africana na culinária. O doce de côco, a canjica e o quibebe são algumas dessas comidas que tiveram origem no outro lado do Atlântico. Para ela, porém, a maior influência dos negros está na maneira de pensar. A alegria, a bondade, a tolerância, o amor à paz e a bravura são, na sua visão, influências negras no caráter não só do gaúcho, mas de todo brasileiro.não é assim tão fácil.
Mais sobre o Augusto aqui.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Quem é o louco?

Não conheço a Talita Guedes, mas é impossível não fazer um comentário sobre o belo texto que ela escreveu no blog do .lucas, o condussão.
Antes de querer ser jornalista eu quis ser psiquiatra, tocada pela luta antimanicomial.
Sempre me peguei pensando na questão: quem é mais louco? Serão os "loucos" propriamente ditos, excluídos simplesmente por não agirem de acordo com as normas da sociedade ou nós, considerados "normais", trancafiados nesse mundo capitalista em que a relação poder x lucro fala sempre mais alto?
Os anos passaram. Descobri minha aptidão para correr atrás dos fatos. Desisti de ser psiquiatra. Mas essa questão até hoje me atormenta.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sumi como resposta

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência".

salve Martha Medeiros

Passou...

Essa semana foi corrida, não tive tempo de escrever no blog, apesar de várias idéias surgirem em minha mente. Pensei em escrever sobre o Anima Mundi 2007, já que fui na abertura para imprensa na terça-feira e vi ótimos trabalhos de animação. Pensei também em escrever sobre como me senti estranha no Troféu HQMIX (a premiação foi na quarta-feira) já que não ganhei o troféu destinado à tese de graduação. Mas, como já escrevi aqui, é engraçado como a vida dá voltas...
Hoje meu relógio despertou às 6h e, como de praxe, desliguei e voltei a dormir. Logo em seguida me acordaram para mais um dia de trabalho. Mais um dia para a vida. Sai com a sensação de que meu dia seria bom, não sei porque. Talvez você leia isso e ache uma fantasia da minha cabeça essa idéia de "sensação". Enfim, tudo corria normal até que uma ação aparentemente banal resultou num grande acontecimento. Coisa boa.
Certa vez alguém me disse que coisas boas acontecem quando a gente menos espera. Assino em baixo. Não vou me estender muito falando sobre isso, já que tenho outras atividades para fazer. Só passei mesmo para escrever que não abandonei o blog, só não tenho escrito ultimamente por pura falta de tempo.
É isso. Assim que possível passo novamente por aqui.


(...) E se entre meus leitores há alguma pessoa que na passagem do ano teve apenas um amargo encontro consigo mesmo, e viveu esse instante na solidão, na tristeza, na desesperança, no sofrimento, ou apenas no odioso tédio, que a esse alguém me seja permitido dizer: "Vinde. Vamos tocar janeiro, vamos por fevereiro e março e abril e maio, e tudo que vier; durante o ano a gente o esquece, e se esquece; é menos mal. E às vezes, ao dobrar uma semana ou quinzena, às vezes dá uma aragem. Dá, sim; dá, e com sombra e água fresca. E quem vo-lo diz é quem já pegou muito no sol nos desertos e muito mormaço nas charnecas da existência. Coragem, a Terra está rodando; vosso mal terá cura. E se não tiver, refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão."

Rubem Braga, A Borboleta Amarela.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Atendendo a pedidos...

A partir de hoje tem espaço para comentários no blog. A princípio, não queria deixar pra evitar coisas do tipo "axim", "miguxa"e "KaLkEr" ou então comentários em branco... mas... Agora taí. Críticas, comentários e discussões à vontade.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Santos Dumont

Neomisia Silvestre é jornalista. Gosta de Carmem Miranda, Wandula, dança indiana e tem fascinação por Santos Dumont. Ela escreveu o texto abaixo para um concurso de redação nacional, em comemoração ao Centenário do vôo do 14 BIS. Ficou entre 50 selecionados e teve o texto publicado em um livro.

Criou asas e voou...
Quando lhe deram a notícia, mal pôde acreditar.
Era sua primeira
viagem de avião.
"Atenção senhores passageiros com destino à...". O vôo estava marcado para manhã, voaria na luz do dia de sol. No aeroporto: pessoas, destinos, horários, check in, check out. A janela era vista só minha. Uma pista livre à frente. "Coloquem o cinto de segurança...". O coração acelerava com o girar dos motores cada vez mais rápido, cada vez mais alto. Sob o nariz tudo foi se tornando pequeno, limitado, acanhado. "Não é permitido o uso de...". Não conseguia imaginar como voar era possível. Uma leve turbulência. Um medo. Uma voz: "Desejamos a todos uma boa viagem".
O céu era doce feito algodão
Azul tinha a imensidão do mar
Nuvens faziam sombra no baixo
Casas, quadras e estradas
viraram num dia, um só
Pequenos rios e campos
À essa altura o vento
corria forte nas asas
hélice gira, girassol
fuselagem, rodas
leme, direção
aeroplano
aviador
vento
pouso
As horas, junto ao avião, voaram.
Graças àquele que criou asas e voou.
Não era anjo, nem santo, apenas
Dumont.
No 20 de julho de 1873, na fazenda Cabangú, em Minas Gerais, nascia Alberto Santos Dumont, filho do engenheiro Henrique e Francisca de Paula Dumont. Na infância, já demonstrava certo interesse pela inventividade e tinha como referência as leituras do ficcionista Júlio Verne. Dumont já se encantava com o subir dos balões de São João.
Aos 18 anos, emancipação concedida. Deu início aos estudos em física, química, mecânica e eletricidade, em Paris. Acreditava seu pai que o futuro da humanidade estaria na mecânica. Volta da capital francesa trazendo o primeiro automóvel para o Brasil, um Peugeot Cupê, em 1892.
Como uma grande bola de sabão, o seu primeiro balão, o menor, o mais lindo e o único que teve um nome: "Brasil", com 6 metros de diâmetro e 113m³ de profundidade. O balão fez Dumont navegar pelo ar.
Sua vida de inventor estava marcada pelo experimento com o triciclo a petróleo, no qual, posteriormente, o motor a gasolina seria utilizado nos balões que dominariam os ares. O balão n° 1 foi construído: hélice, bobinas, motor de duplo cilindro, escapamento, carburador... Dumont flutuava. Sofreu alguns acidentes, é verdade, mas a inquietação e a vontade por novos dirigíveis o fizeram seguir com o n° 2, o n° 3, o n° 4, o n° 5 e o n° 6 que conquistou o prêmio Deutsch, em 1901. Foi ele, a bordo do seu balão n° 6, o primeiro a contornar a Torre Eiffel e a comprovar a dirigibilidade para uma multidão que acompanhava a trajetória.
Aos 32 anos, faz o balão n° 7 e devido ao acidente com o dirigível n° 5, Dumont não constrói o n° 8, mas continua criando. Dentre as várias experiências em Bagatelle, um aeroplano suspenso pelo balão n° 14 foi batizado, pelas pessoas que acompanhavam o feito, de 14 bis. A invenção, com base no vôo do pato Canard, em que a direção é dada pela cabeça, o primogênito dos aviões voou 60 metros e subiu 2 de altura, em 23 de outubro de 1906.
Dumont foi das asas à imaginação. A ele é atribuído a invenção do relógio de pulso: precisava ver as horas ao pilotar. Do chuveiro com misturador de água quente e fria ao terno risca de giz, também. A elegância de seu 1,53m era fundamental: longas golas, chapéu e luvas completavam o figurino. Além da casa por ele projetada, a "Encatada", onde vivia em Petrópolis.
Não se casou, mas uma senhorita marcaria para sempre sua história. Sucessivamente, ele continuou a fazer os dirigíveis até chegar ao n° 20: "Demoiselle". O modelo atual do avião, até então desconhecido, foi o marco da aeronáutica passando a ser copiado e ganhando popularidade em todo o mundo.
Aos 59 anos, suicida-se no hotel La Grand Plage Guarujá, em São Paulo. O personagem histórico, dos 25 aos 35 anos, resolve o desejo de voar do homem. Santos Dumont acompanhou uma evolução em termos de tecnologia e história. O que ele viu.
O que nós veremos?

terça-feira, 3 de julho de 2007

"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira".

Cecília Meireles


* A frase acima é um trecho de um poema. Resume como me sinto.
**Não tenho entrado com a mesma frequência de antes na internet. Assim que der, atualizo aqui.