segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Desejo que desejes

Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido,
Desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis,
que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa...
Desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.
Mas desejo também que desejes com audácia,
Que desejes uns sonhos descabidos
E que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração,
Mas os mantenha acesos, livres de frustração,
Desejes com fantasia e atrevimento,
Estando alerta para as casualidades e os milagres,
Para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.
Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras,
Que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe...
E desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer...
E que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro,
Eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.
Mas desejo também que desejes uma alegria incontida,
Que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos,
Basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar,
Que desejes o bar tanto quanto a igreja,
Mas que o desejo pelo encontro seja sincero,
Que desejes escutar as histórias dos outros,
Que desejes acreditar nelas e desacreditar também,
Faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas,
Que desejes não ter tantos desejos concretos,
Que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas.
Desejo que desejes alguma mudança,
Uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma,
Mudanças são temidas, mas não há outro combustível para essa travessia.
E desejo, principalmente,
Que desejes desejar, que te permitas desejar,
Pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente,
Não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances,
diagnósticos favoráveis, mais dinheiro e sentimentos vários,
Mas desejo, antes de tudo, que desejes, simplesmente.

Martha Medeiros

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Sobre a morte

Telefone toca durante a madrugada. Ainda sonolenta, atendo a ligação e demoro um pouco para reconhecer a voz do outro lado do fio. Frases entrecortadas. Voz trêmula. “Seu pai tai?”. Logo vem a notícia: trata-se de alguém que partiu.
Como lidar com essa sensação de vazio que se apodera de nós? Como lidar com as lágrimas que demoram a chegar aos olhos, quando chorar seria o melhor remédio? Parece que o cérebro não processa direito a informação.
A gente acorda, faz planos para a semana, atende telefonemas, responde e-mails, conversa com amigos, cuida da casa, sai para trabalhar e, de repente, tudo some, tudo foge. Alguém partiu. Sem hora marcada. Sem despedidas. Como todos faremos um dia.


Texto escrito dia 27 de julho de 2007.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Estes dias...

De onde vem essa busca? Essa necessidade de desvendar os mistérios da vida, quando as perguntas mais simples nunca podem ser respondidas: Por que estamos aqui? O que é a alma? Por que sonhamos? Talvez fosse melhor não procurarmos respostas, não nos envolvermos, não termos anseios. Mas a natureza humana não é assim. Nem o coração dos homens. Não é por isso que estamos aqui. Contudo, continuamos lutando para fazer a diferença, para mudar o mundo, para sonhar com a esperança. Sem saber com certeza quem encontraremos pelo caminho.
Quem num mundo de estranhos vai segurar a nossa mão? Vai tocar nossos corações? E partilhar o sofrimento de ter tentado?
Nós sonhamos com a esperança, com a mudança. Com fogo, amor, morte. E aí, acontece. Os sonhos se tornam realidade. E a resposta para essa busca e para a necessidade de desvendar os mistérios da vida finalmente se revela como a luz crescente de um novo amanhecer.
Tanta luta em busca de um significado, de um propósito e, no final, só o achamos entre nós. Em nossas experiências partilhadas entre o fantástico e o mundano. A simples necessidade humana de encontrar um semelhante, de estabelecer uma ligação e de saber em nossos corações que não estamos sozinhos.

Heroes, último episódio do volume I.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Só por curiosidade

Alguém já conseguiu entender o que aqueles outdoors vermelhos, que normalmente ficam na Radial Leste de SP, querem dizer?
O último diz o seguinte:


CABELOS NEVE MÉDIO
ROSTO JESUS UMA
OLHOS AZUIS LUZ
(??????) Mistério...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ouro de tolo

"Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar
(...) tenho uma porção de coisas grandes para conquistar e não posso ficar aqui parado".

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Reflexões de fim de ano

É inevitável. Chega ano, vai ano, e cada vez que o mundo está prestes a concluir a volta que dá em si mesmo, todos nós colocamos na balança o que passamos nos últimos 12 meses: alegrias, tristezas, conquistas, derrotas, além de novos planos e promessas para o ano que se aproxima. Pensando nisso, resolvi colocar aqui um texto do ano passado, o último que escrevi para o memorial do meu trabalho de conclusão de curso [o livro-reportagem Novos Traços: a inovação da linguagem jornalística, que escrevi com Neomisia Silvestre] na universidade. Apenas relendo este depoimento consigo fazer um paralelo com este ano. Para quem tiver paciência de lê-lo até o fim, boa leitura!
.
As folhas que resistem ao vento

Uma semente é lançada ao vento e encontra terreno propício a fertilização. A chuva, o sol e o vento fazem com que o princípio de vida se enterre cada vez mais fundo e germine para os primeiros raios do sol. O pequenino broto, ao sentir o calor que emana do astro-rei se alimenta para seguir adiante com seu crescimento. A chuva dissipa a poeira e renova sua energia.
Como uma centelha de vida lançada ao vento, o encantamento pelo conhecimento atingiu-nos em cheio, tornando-nos apaixonadas pelo mundo das idéias e das palavras. E assim, escolhemos o nosso caminho: o Jornalismo.
Um caminho difícil, permeado por conflitos, incertezas e medos, principalmente o de falhar. Medo de não corresponder às expectativas que tantos depositaram em nós. Medo de trairmos nossos sonhos. Desde o fim de 2005, quando decidimos unir forças e inteligências para a construção de um livro-reportagem, fizemos um pacto silencioso: seria na confecção deste trabalho que provaríamos a nós mesmas nossa fé, coragem e potencial como agentes inteligentes da informação.
Seguindo o exemplo da natureza, fomos germinando a cada pesquisa sobre o tema e a cada descoberta crescíamos um pouco mais. Criamos tronco e nossas raízes foram se aprofundando, sedentas pela água do conhecimento. Quanto mais sabíamos, mais burras nos sentíamos e isso não mudou até hoje. Acredito que nunca irá mudar.
Este ano foi difícil, mas conseguimos dar conta dos vários trabalhos e do projeto de TCC no primeiro semestre. Vimos nosso “capitão” ser desligado da universidade junto com mais 37 professores. “Fundamos” o MSO (Movimento do Sem-Orientador), fizemos passeatas, manifestações e como resultado das ações do MSO, finalmente quando conhecemos nosso novo orientador, tivemos duas semanas de volta às aulas, extinção das orientações semanais de TCC e professores nos apontando no corredor, dizendo aos outros alunos: “Se eu fosse vocês, tacava ovos neles”.
Fizemos inúmeras reuniões com os alunos das demais habilitações de comunicação social, com o coordenador do curso e o Pró-reitor de graduação. Conseguimos que a coordenação revogasse a decisão de volta às aulas e obtivéssemos orientações semanais.
Passamos madrugadas em claro para cumprir os prazos. Se bem que é bom aprendermos a lidar com isto desde já, afinal, jornalista que se preza tem que conviver com o deadline pro resto da vida.
Nos inquietamos ao ver os ataques do PCC. Ao invés de corrermos desesperadas para nossas casas, como a maioria das pessoas estava fazendo, queríamos ir para a rua cobrir os acontecimentos, sentir de perto o que estava acontecendo. Nessas horas, cada uma repetia para si mesma: “Que droga de jornalista eu sou!”.
A frustração por ainda não trabalharmos no chamado “hard news” e vivenciarmos o “ser jornalista” nos atingia. E então, voltávamos para casa junto com as pessoas assustadas com os ataques dos mosqueteiros do crime. Tornou-se inevitável ouvirmos o trocadilho “PCC ou TCC?”. Ambos deixaram suas marcas terroristas em nossas vidas.
Em ano de eleições, vimos candidatos como Maluf, Clodovil, Frank Aguiar, Palocci, Enéas e Collor eleitos com grande quantidade de votos. Algo, no mínimo, bizarro.
Passamos por nossas eleições pessoais. Elegemos o estudo e o trabalho como prioridade para atingirmos nossas metas. Deixamos de lado todo o resto: família, amigos, primos, diversão e frivolidade. Por conta do TCC deixei de ver pessoas que eu amo e uma delas não estará mais aqui para eu me desculpar.
Nada foi fácil e, apesar de termos consciência que nos dedicamos ao máximo na realização do trabalho, não conseguimos afastar a idéia de que poderia ter sido melhor. É como se existisse uma vigilância interior que nos impede de falhar... Mas, bem ou mal, chegamos até aqui.
Por vezes, vimos a primavera acontecer no inverno. Fizemos coisas que muitos desacreditaram que conseguiríamos: “Nem tentem falar com o Jaguar. Ele não fala com ninguém”. E de repente, lá estávamos nós, conversando e rindo com o Jaguar. Ou “o Millôr é um velho ranzinza, também não fala com ninguém”. Mas nós conseguimos falar com ele. Tudo bem que foi por e-mail, mas conseguimos a entrevista!
Falamos com pessoas que nunca imaginamos que um dia falaríamos: Ferreira Gullar, Luis Fernando Veríssimo, Paulo Caruso. Aprendemos uma série de coisas estudando os textos dos dois primeiros, no ensino médio da escola.
Vencemos obstáculos geográficos e os da vida. Fomos a Paraty, participamos de uma mini coletiva de imprensa com apenas nove jornalistas, uma delas do Washington Post. Tivemos dificuldade para entender tudo o que Lillian Ross, a “avó do New Journalism”, falava, mas quando fomos apresentadas a ela, recebemos como resposta um risonho e sonoro: “Boa sorte para as novas jornalistas!”.
Ainda tentamos falar com Joe Sacco. Foi difícil arrumar o contato dele, mas não desistimos e, em um belo dia, conseguimos! Ele foi simpático ao responder o e-mail, aceitou conversar conosco, mas tinha que ser ainda naquela semana. Quando respondemos o e-mail marcando o dia e horário da entrevista (seria por telefone), ele não respondeu mais. Ele havia alertado que estava muito atarefado, talvez por isto, não tenha respondido novamente.
Tivemos flores no inverno, mas o vento gelado soprou na primavera. Quando finalmente terminarmos de escrever o livro e estava tudo certo para a diagramação, desde o dia 15 de outubro, a pessoa que tínhamos fechado para diagramar nos falou, em pleno dia 25, que não terminaria a tempo para a entrega no dia seis de novembro. Ficamos desesperadas, mas novamente não nos deixamos abater: conseguimos outro diagramador. Mandamos o material no dia 27. Dia 31 à noite, o livro já estava rodando na gráfica.
Nossas folhas resistiram. Chegamos até aqui. Sabemos que muitos ventos gelados ainda soprarão e que somente a persistência, a coragem e o amor por um ideal é que nos fará continuar resistindo.
E no que depender de nós, continuaremos firmes, caminhando dia após dia. Encerramos mais um ciclo, mas não paramos por aqui. Ainda temos que buscar energia para florescer e quem sabe, dar frutos.
A melhor, e mais difícil parte do caminho, começa agora.