quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Terror para menores

Em Coraline, livro infanto-juvenil de Neil Gaiman, autor fantasia com elementos sombrios

Na literatura infantil, quando bem explorada, um simples abrir de porta tem o poder de conduzir para terras distantes e reinos repletos de fantasia. Em Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, a garota mergulha na toca do coelho e, a partir daí, conhece um chapeleiro maluco, um gato que desaparece no ar e uma lagarta que desfere sábios conselhos. Nas crônicas de C. S. Lewis, quatro crianças adentram um guarda-roupa e conhecem o reino encantado de Nárnia, onde travam batalhas em prol da justiça ao lado de animais falantes. O mesmo deslocamento ocorre com Coraline, primeiro livro de Neil Gaiman para crianças publicado no Brasil.

A artimanha literária utilizada por Gaiman recorre aos clássicos: uma porta aberta – que uma hora mostra uma parede de tijolos e noutra um corredor – conduz o leitor para uma trama de mistério e suspense em que a protagonista, que dá nome ao livro, inicia uma viagem fantástica, enfrentando situações extravagantes e assustadoras.

Freqüentemente comparado com Edgar Allan Poe, o autor de Sandman – graphic novel campeã internacional de vendas, com tiragem de dois milhões de exemplares por ano – utiliza elementos góticos e do terror para criar uma atmosfera envolvente para as mais variadas idades. Na história, Coraline [e não "Caroline", como ela mesma diz] acaba de se mudar para um apartamento numa casa antiga e se propõe a explorar o lugar. Em uma tarde chuvosa, ela consegue abrir uma porta na sala de visitas de casa, que sempre estivera trancada, e descobre um caminho para um misterioso apartamento "vazio" no quarto andar do prédio.

Para a sua surpresa, o apartamento não tem nada de desabitado e logo ela entra em contato com um mundo muito parecido com o real, a não ser pelo fato de, aparentemente, tudo ser mais gostoso e interessante. A menina, no entanto, logo descobre que aquele mundo é um lugar aterrorizante e repleto de armadilhas.

Com esta obra, Gaiman desmistifica o conceito de que histórias infanto-juvenis são “coisa de criança” e cria um conto de fadas moderno e obscuro. O enredo inclui um gato preto, espíritos aprisionados em um espelho e até mesmo uma “outra mãe”, que deseja pregar botões nos olhos de Coraline.

As armadilhas do autor criam várias possibilidades nos labirintos da imaginação do leitor, revelando surpresas em cada um dos 13 capítulos, e mostra que a literatura é um lugar privilegiado por permitir o mergulho nas mais variadas narrativas, desmontando, inclusive, paradigmas. Além disso, as ilustrações de Dave McKean dão um tom especial ao processo narrativo, uma vez que acrescentam à obra traços angulares e sombrios.

O próprio Gaiman se considera “um grande escritor infantil”. Como reconhecimento do sucesso de seu trabalho, Coraline ganhou uma versão para o cinema adaptada pelo diretor Henry Selick [O Estranho Mundo de Jack] e pelo co-diretor Mike Cachuela, veterano ilustrador de filmes como Os incríveis e A noiva cadáver. A animação, produzida pela Pandemonium Films, será distribuída pela Disney e tem previsão de estréia, nos EUA, em fevereiro de 2009.
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Confira o teaser da animação.
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Coraline
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por Neil Gaiman
Editora Rocco
160 págs.
$ 31,00
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(Publicado na Revista Paradoxo)

2 comentários:

Anônimo disse...

Querida, que satisfação ler seus textos, tecidos com dedicação e entusiasmo. E como você entende do assunto! Um beijo daquele que te acompanha,
Caio

Nina disse...

olá...
simplesmente AMEI o seu blog.

Os textos estão super bem escritos e sabe que fiquei com vontade de ler Coraline...haha

Posso te perguntar uma coisa sobre O blog?
Como você faz para pular linhas? Estou quebrando a cabeça há quase um mês (e cada vez mais me arrependo de ter criado este pelo blogger e não o uol, mas enfim...você saberia me responder?

De qualquer jeito, valeu e parabéns pelos textos