segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Desejo que desejes

Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido,
Desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis,
que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa...
Desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.
Mas desejo também que desejes com audácia,
Que desejes uns sonhos descabidos
E que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração,
Mas os mantenha acesos, livres de frustração,
Desejes com fantasia e atrevimento,
Estando alerta para as casualidades e os milagres,
Para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.
Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras,
Que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe...
E desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer...
E que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro,
Eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.
Mas desejo também que desejes uma alegria incontida,
Que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos,
Basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar,
Que desejes o bar tanto quanto a igreja,
Mas que o desejo pelo encontro seja sincero,
Que desejes escutar as histórias dos outros,
Que desejes acreditar nelas e desacreditar também,
Faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas,
Que desejes não ter tantos desejos concretos,
Que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas.
Desejo que desejes alguma mudança,
Uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma,
Mudanças são temidas, mas não há outro combustível para essa travessia.
E desejo, principalmente,
Que desejes desejar, que te permitas desejar,
Pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente,
Não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances,
diagnósticos favoráveis, mais dinheiro e sentimentos vários,
Mas desejo, antes de tudo, que desejes, simplesmente.

Martha Medeiros

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Sobre a morte

Telefone toca durante a madrugada. Ainda sonolenta, atendo a ligação e demoro um pouco para reconhecer a voz do outro lado do fio. Frases entrecortadas. Voz trêmula. “Seu pai tai?”. Logo vem a notícia: trata-se de alguém que partiu.
Como lidar com essa sensação de vazio que se apodera de nós? Como lidar com as lágrimas que demoram a chegar aos olhos, quando chorar seria o melhor remédio? Parece que o cérebro não processa direito a informação.
A gente acorda, faz planos para a semana, atende telefonemas, responde e-mails, conversa com amigos, cuida da casa, sai para trabalhar e, de repente, tudo some, tudo foge. Alguém partiu. Sem hora marcada. Sem despedidas. Como todos faremos um dia.


Texto escrito dia 27 de julho de 2007.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Estes dias...

De onde vem essa busca? Essa necessidade de desvendar os mistérios da vida, quando as perguntas mais simples nunca podem ser respondidas: Por que estamos aqui? O que é a alma? Por que sonhamos? Talvez fosse melhor não procurarmos respostas, não nos envolvermos, não termos anseios. Mas a natureza humana não é assim. Nem o coração dos homens. Não é por isso que estamos aqui. Contudo, continuamos lutando para fazer a diferença, para mudar o mundo, para sonhar com a esperança. Sem saber com certeza quem encontraremos pelo caminho.
Quem num mundo de estranhos vai segurar a nossa mão? Vai tocar nossos corações? E partilhar o sofrimento de ter tentado?
Nós sonhamos com a esperança, com a mudança. Com fogo, amor, morte. E aí, acontece. Os sonhos se tornam realidade. E a resposta para essa busca e para a necessidade de desvendar os mistérios da vida finalmente se revela como a luz crescente de um novo amanhecer.
Tanta luta em busca de um significado, de um propósito e, no final, só o achamos entre nós. Em nossas experiências partilhadas entre o fantástico e o mundano. A simples necessidade humana de encontrar um semelhante, de estabelecer uma ligação e de saber em nossos corações que não estamos sozinhos.

Heroes, último episódio do volume I.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Só por curiosidade

Alguém já conseguiu entender o que aqueles outdoors vermelhos, que normalmente ficam na Radial Leste de SP, querem dizer?
O último diz o seguinte:


CABELOS NEVE MÉDIO
ROSTO JESUS UMA
OLHOS AZUIS LUZ
(??????) Mistério...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ouro de tolo

"Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar
(...) tenho uma porção de coisas grandes para conquistar e não posso ficar aqui parado".

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Reflexões de fim de ano

É inevitável. Chega ano, vai ano, e cada vez que o mundo está prestes a concluir a volta que dá em si mesmo, todos nós colocamos na balança o que passamos nos últimos 12 meses: alegrias, tristezas, conquistas, derrotas, além de novos planos e promessas para o ano que se aproxima. Pensando nisso, resolvi colocar aqui um texto do ano passado, o último que escrevi para o memorial do meu trabalho de conclusão de curso [o livro-reportagem Novos Traços: a inovação da linguagem jornalística, que escrevi com Neomisia Silvestre] na universidade. Apenas relendo este depoimento consigo fazer um paralelo com este ano. Para quem tiver paciência de lê-lo até o fim, boa leitura!
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As folhas que resistem ao vento

Uma semente é lançada ao vento e encontra terreno propício a fertilização. A chuva, o sol e o vento fazem com que o princípio de vida se enterre cada vez mais fundo e germine para os primeiros raios do sol. O pequenino broto, ao sentir o calor que emana do astro-rei se alimenta para seguir adiante com seu crescimento. A chuva dissipa a poeira e renova sua energia.
Como uma centelha de vida lançada ao vento, o encantamento pelo conhecimento atingiu-nos em cheio, tornando-nos apaixonadas pelo mundo das idéias e das palavras. E assim, escolhemos o nosso caminho: o Jornalismo.
Um caminho difícil, permeado por conflitos, incertezas e medos, principalmente o de falhar. Medo de não corresponder às expectativas que tantos depositaram em nós. Medo de trairmos nossos sonhos. Desde o fim de 2005, quando decidimos unir forças e inteligências para a construção de um livro-reportagem, fizemos um pacto silencioso: seria na confecção deste trabalho que provaríamos a nós mesmas nossa fé, coragem e potencial como agentes inteligentes da informação.
Seguindo o exemplo da natureza, fomos germinando a cada pesquisa sobre o tema e a cada descoberta crescíamos um pouco mais. Criamos tronco e nossas raízes foram se aprofundando, sedentas pela água do conhecimento. Quanto mais sabíamos, mais burras nos sentíamos e isso não mudou até hoje. Acredito que nunca irá mudar.
Este ano foi difícil, mas conseguimos dar conta dos vários trabalhos e do projeto de TCC no primeiro semestre. Vimos nosso “capitão” ser desligado da universidade junto com mais 37 professores. “Fundamos” o MSO (Movimento do Sem-Orientador), fizemos passeatas, manifestações e como resultado das ações do MSO, finalmente quando conhecemos nosso novo orientador, tivemos duas semanas de volta às aulas, extinção das orientações semanais de TCC e professores nos apontando no corredor, dizendo aos outros alunos: “Se eu fosse vocês, tacava ovos neles”.
Fizemos inúmeras reuniões com os alunos das demais habilitações de comunicação social, com o coordenador do curso e o Pró-reitor de graduação. Conseguimos que a coordenação revogasse a decisão de volta às aulas e obtivéssemos orientações semanais.
Passamos madrugadas em claro para cumprir os prazos. Se bem que é bom aprendermos a lidar com isto desde já, afinal, jornalista que se preza tem que conviver com o deadline pro resto da vida.
Nos inquietamos ao ver os ataques do PCC. Ao invés de corrermos desesperadas para nossas casas, como a maioria das pessoas estava fazendo, queríamos ir para a rua cobrir os acontecimentos, sentir de perto o que estava acontecendo. Nessas horas, cada uma repetia para si mesma: “Que droga de jornalista eu sou!”.
A frustração por ainda não trabalharmos no chamado “hard news” e vivenciarmos o “ser jornalista” nos atingia. E então, voltávamos para casa junto com as pessoas assustadas com os ataques dos mosqueteiros do crime. Tornou-se inevitável ouvirmos o trocadilho “PCC ou TCC?”. Ambos deixaram suas marcas terroristas em nossas vidas.
Em ano de eleições, vimos candidatos como Maluf, Clodovil, Frank Aguiar, Palocci, Enéas e Collor eleitos com grande quantidade de votos. Algo, no mínimo, bizarro.
Passamos por nossas eleições pessoais. Elegemos o estudo e o trabalho como prioridade para atingirmos nossas metas. Deixamos de lado todo o resto: família, amigos, primos, diversão e frivolidade. Por conta do TCC deixei de ver pessoas que eu amo e uma delas não estará mais aqui para eu me desculpar.
Nada foi fácil e, apesar de termos consciência que nos dedicamos ao máximo na realização do trabalho, não conseguimos afastar a idéia de que poderia ter sido melhor. É como se existisse uma vigilância interior que nos impede de falhar... Mas, bem ou mal, chegamos até aqui.
Por vezes, vimos a primavera acontecer no inverno. Fizemos coisas que muitos desacreditaram que conseguiríamos: “Nem tentem falar com o Jaguar. Ele não fala com ninguém”. E de repente, lá estávamos nós, conversando e rindo com o Jaguar. Ou “o Millôr é um velho ranzinza, também não fala com ninguém”. Mas nós conseguimos falar com ele. Tudo bem que foi por e-mail, mas conseguimos a entrevista!
Falamos com pessoas que nunca imaginamos que um dia falaríamos: Ferreira Gullar, Luis Fernando Veríssimo, Paulo Caruso. Aprendemos uma série de coisas estudando os textos dos dois primeiros, no ensino médio da escola.
Vencemos obstáculos geográficos e os da vida. Fomos a Paraty, participamos de uma mini coletiva de imprensa com apenas nove jornalistas, uma delas do Washington Post. Tivemos dificuldade para entender tudo o que Lillian Ross, a “avó do New Journalism”, falava, mas quando fomos apresentadas a ela, recebemos como resposta um risonho e sonoro: “Boa sorte para as novas jornalistas!”.
Ainda tentamos falar com Joe Sacco. Foi difícil arrumar o contato dele, mas não desistimos e, em um belo dia, conseguimos! Ele foi simpático ao responder o e-mail, aceitou conversar conosco, mas tinha que ser ainda naquela semana. Quando respondemos o e-mail marcando o dia e horário da entrevista (seria por telefone), ele não respondeu mais. Ele havia alertado que estava muito atarefado, talvez por isto, não tenha respondido novamente.
Tivemos flores no inverno, mas o vento gelado soprou na primavera. Quando finalmente terminarmos de escrever o livro e estava tudo certo para a diagramação, desde o dia 15 de outubro, a pessoa que tínhamos fechado para diagramar nos falou, em pleno dia 25, que não terminaria a tempo para a entrega no dia seis de novembro. Ficamos desesperadas, mas novamente não nos deixamos abater: conseguimos outro diagramador. Mandamos o material no dia 27. Dia 31 à noite, o livro já estava rodando na gráfica.
Nossas folhas resistiram. Chegamos até aqui. Sabemos que muitos ventos gelados ainda soprarão e que somente a persistência, a coragem e o amor por um ideal é que nos fará continuar resistindo.
E no que depender de nós, continuaremos firmes, caminhando dia após dia. Encerramos mais um ciclo, mas não paramos por aqui. Ainda temos que buscar energia para florescer e quem sabe, dar frutos.
A melhor, e mais difícil parte do caminho, começa agora.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Vale a pena ver de novo


De 06 a 16 de dezembro
Quinta a sábado - 19h
Domingos - 18h
Centro Cultural São Paulo


Leia sobre esta peça aqui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Salvando o passarinho

- Vem ver o passarinho que eu peguei!
- Como assim, “pegou”? Onde?
- Ah, ele tava perdido no quintal, aí eu peguei. Fácil assim ó.
- Coitado do passarinho! Deixa o bichinho ficar solto.
- Não, coitado. Tem muito gato na vizinhança e ele é novinho, vão acabar comendo ele. Olha a pulseira que ele tem na patinha. Deve ter fugido de algum instituto, sei lá, se eu soltá-lo ele vai ficar perdido.
- Normalmente colocam essa pulseira para rastrear o passarinho. Que judiação... Tira ele da gaiola.
- Não, eu estou cuidando dele. Aqui ele vai ser bem cuidado, sem correr os perigos de ficar solto por aí, sem rumo.
- É... Só as asas dele que vão morrer.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O fim de Harry Potter

Chega às livrarias do Brasil o livro que traz fim a saga do bruxinho mais famoso do mundo



Depois de especulações, traduções vazadas na internet e muitas teorias acerca do fim de Harry Potter, os fãs de plantão podem respirar aliviados. O sétimo e último livro de J.K. Rowling, lançado no último dia 10, responde às lacunas deixadas nas histórias anteriores.
Como uma espécie de quebra-cabeças, em Harry Poter e as Relíquias da Morte, pouco a pouco o leitor toma conhecimento da verdadeira ligação entre Potter e o grande vilão, Lord Voldemort. Algumas teorias levantadas em comunidades, grupos de discussão, blogs e sites de fãs do bruxinho são confirmadas na história, mas, como nos outros livros da série, Rowling conduz a narrativa para um final surpreendente.
Harry Potter surgiu inesperadamente na cabeça da autora em 1990, durante uma viagem de trem de Manchester para Londres. No decorrer daquele mesmo ano, rascunhou e amadureceu a idéia. Nos anos seguintes, enfrentando uma grave crise financeira e depressiva, Rowling freqüentemente escrevia em cafés e bares, enquanto sua filha dormia no carrinho ao seu lado.
Após ser recusado por diversas editoras, Harry Potter e a Pedra Filosofal foi publicado em 30 de junho de 1997, pela editora Bloomsbury, na Inglaterra. A primeira edição saiu com menos de 1000 exemplares – a maioria distribuída em bibliotecas escolares – e logo se tornou sucesso de público, batendo recordes de vendas na literatura mundial.
Formada em literatura e filologia francesa pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, Joanne Kathleen Rowling ganhou, entre outros prêmios, o Nestlé Smarties Book Prize Gold Medal, o FCBC Children’s Book Prize, o Birmingham Cable Children’s Book Award e o cobiçado British Book Awards Children’s Book of the Year, além do Prêmio Príncipe de Astúrias, em 2003.
Os seis primeiros volumes da série venderam 325 milhões de exemplares, em 64 idiomas. Só no Brasil foram 2,5 milhões. O sétimo livro, com tiragem inicial de 400 mil exemplares, foi aguardado com ansiedade por admiradores de todo país.
Em sua última aventura, Harry confronta-se com constantes perigos, das primeiras às últimas páginas. Descobre segredos de pessoas queridas, traições e aprende, por meio das relíquias do mundo bruxo, o real significado do amor, da lealdade e da morte.
Para os milhares de fãs do mundo, o fim da saga não significa a morte das histórias: estas permearam para sempre a vida de toda uma geração.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Questão de cidadania

Anderson Oliveira é um amigo que encontrei por acaso no Orkut (sim, acredite se quiser!). Com uma conversa aqui, uma ilustração acolá, livros em comum e passeio na Pinacoteca, aos poucos as afinidades foram revelando-se. Simpatia em pessoa foi ele que, a pedido meu, escreveu o belo texto abaixo.


A cidadania brasileira através de um esporte bretão

Eu adoro futebol. Quem me conhece sabe bem disso. E eu sou um entre bilhões de pessoas apaixonadas em todo o mundo. E, mais especificamente ainda, um entre milhões no Brasil. Em nosso país, isso é quase uma tradição familiar: a escolha de um time logo cedo, geralmente com os pais incentivando o pequeno rebento a torcer por seu time de coração. Às vezes não dá certo. O moleque acaba torcendo pro time rival. Coisas da vida. Coisas do Brasil, como já disse Guilherme Arantes. O futebol, que tem suas raízes fincadas na cultura bretã de séculos e séculos atrás, encontrou no Brasil o seu berço mais ilustre, levando multidões aos estádios e, com o tempo, ocupando um espaço imbatível no inconsciente coletivo do povo. Eu vejo o futebol como a maior forma de expressão de cidadania de nosso povo. Os ingleses vão ao teatro, os americanos vão ao cinema para experimentar esse momento de convívio com o outro, essa repartição de experiências. A coisa de fechar-se numa sala escura, com várias outras pessoas e mergulhar numa história por horas. Os brasileiros, por sua vez, vão ao estádio de futebol. Depois de uma semana pegando aquele ônibus lotado, enfrentando mil dificuldades para ganhar o seu sustento, quando chega o final de semana, ah, que coisa fantástica! É dia de Maracanã com a família e os amigos!
Eu sempre me emociono ao ver as gerais – local do estádio bem próximo da lateral do campo e onde os ingressos são mais baratos – com seus folclóricos personagens. Pessoas cheias de fé e alegria, com santos nas mãos, fantasias, olhos atentos no gramado, sofrendo, gritando, xingando e comemorando com os jogadores dos seus times. E essa paixão pode ter ganhado essa força descomunal justamente por uma tragédia: a final da Copa do Mundo de 1950. No Maracanã, quase 200 mil brasileiros assistiram, calados e chorosos, o Uruguai bater a nossa Seleção, de virada, por dois tentos a um. Os uruguaios chamam esse evento cataclísmico, até hoje, de Maracanaço! E o foi mesmo. Nossos vizinhos “celestes” despertaram um gigante. O Brasil passou a ser a “pátria de chuteiras”, um ícone que representa a prática primorosa desse esporte. A camiseta amarela virou um símbolo, uma idéia.
Mas é uma pena que todo esse potencial não andou junto da educação. Nos EUA, os atletas da NBA são todos formados academicamente, pois lá a carreira no basquete começa justamente nos times universitários. Acontece algo parecido na Europa relacionado ao futebol. Os jogadores têm suas formações acadêmicas, pois sabem que não poderão depender do futebol para o resto de suas vidas. São pessoas esclarecidas, conscientes de seu papel na sociedade e do seu valor como atletas que representam um time, uma marca. Simplesmente vivem o futebol com a mesma função do teatro na escola: fazer com que as crianças convivam entre si, aprendendo a conhecer e valorizarem a si mesmas e as diferenças dos outros. Aqui no Brasil é diferente. Os praticantes profissionais de futebol são, de maneira geral, pessoas carentes, de pouco estudo e que são facilmente ludibriados por gananciosos empresários. O dinheiro, por conta da globalização, está consumindo todos os valores, inclusive com o conceito puro e simples da prática esportiva, a busca da perfeição e harmonia entre corpo e mente. O lucro vem em primeiro lugar agora.
Educação para as pessoas? Que nada. Elas não precisam disso. Precisam apenas de uma distração, não é verdade? E é incrível que elas passem dificuldades porque depois, com umas poucas cestas básicas e camisetas, angariamos os seus valorosos votos!
E agora no final de outubro a FIFA – órgão que rege o futebol no mundo – declarou o Brasil como sede da vindoura Copa de 2014. Que maravilha! O maior boom deu-se em nossa mídia. Planos e mais planos são apresentados a todo instante. Construções de metrô, estradas, hospitais, estádios e toda a infra-estrutura que um evento desse porte exige. Mas é preciso sediar uma Copa para que isso aconteça? A nossa população não merece essa dignidade?
Não, é claro que não. Não nesta realidade em que vivemos, neste sistema que foi construído ao nosso redor, por nós mesmos, o que é pior. Sistema esse fadado a consumir a humanidade se nada for feito. Se uma mudança de pensamento e atitude não for efetuada. Os sapatos ou os brincos novos de Paris Hilton precisam sair do destaque dos tablóides. A ausência da calcinha de Flávia Alessandra numa festa não importa, a não ser para o marido dela. A futilidade e a banalidade que rega o nosso dia-a-dia (que poderia ser tão mais rico!) precisa ser extinto para sempre.
Eu adoro futebol. Quem me conhece sabe muito bem disso. E eu trocaria, fácil, as nossas cinco estrelas de melhores do mundo no futebol por um país novo, mas com o mesmo povo, com sua miscigenação maravilhosa e rica, porém, mais consciente, mais cidadão e muito, muito mais feliz.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Como a canção


Eu quero ficar perto de tudo o que eu acho certo
Até o dia em que eu mudar de opinião
A minha experiência, meu pacto com a ciência
Meu conhecimento é minha distração
Coisas que eu sei
Eu adivinho sem ninguém ter me contado
Coisas que eu sei
O meu rádio-relógio mostra o tempo errado... aperte o ‘Play’
Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado
Ninguém sabe mexer na minha confusão
É o meu ponto de vista, não aceito turistas
Meu mundo tá fechado pra visitação
Coisas que eu sei
O medo mora perto das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim não vou trocar de roupa... é a minha lei
Eu corto os meus dobrados
Acerto os meus pecados
Ninguém pergunta mais... depois que eu já paguei
Eu vejo o filme em pausas
Eu imagino casas
Depois eu já nem lembro do que eu desenhei
Coisas que eu sei
Não guardo mais agendas no meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos que eu não sei usar... eu já comprei
As vezes dá preguiça
Na areia movediça
Quanto mais eu mexo mais afundo em mim
Eu moro num cenário
Do lado imaginário
Eu entro e saio sempre quando to a fim
Coisas que eu sei
As noites ficam claras no raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes eu somente não sabia...
Agora eu sei

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Cruzamento

O velocímetro do carro marcava 80 km por hora quando se aproximava do cruzamento. Trocou a marcha e aos poucos foi diminuindo a velocidade. Farol fechado. Parou. Num gesto automático olhou para fora da janela e reconheceu o rosto dentro do carro preto ao seu lado. O vidro fechado, coberto com insul film, não permitia que um visse claramente o rosto do outro, mas mesmo assim, teve a sensação de que ele também a vira. Encontro dos olhos, um na direção do outro. Sentiu-se transportada para outra realidade, como naqueles instantes em que um clarão percorre todo o corpo e tem-se a sensação do momento preciso em que tudo poderia ter sido diferente. A mudança de planos, a permanência na cidade, o “sim” dito na conversa, apesar de todos os medos. Suspirou longamente e falou para si mesma “tudo poderia ser diferente”. Despertou de seus pensamentos com sons de buzina. Desviou o rosto e olhou para frente. Farol aberto. Engatou a primeira e arrancou o carro. Cada qual seguiu seu rumo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Conchas na areia

Ontem eu estava olhando as pedrinhas que tenho na cabeceira ao lado da minha cama e lembrei que certa vez (deveria ter 12 ou 13 anos) andava na praia, sozinha, a caminho do riozinho. Eu sempre recolhia conchas para levar para casa de recordação da viagem, mas aquele dia, quando olhei para as ondas quebrando na praia e as conchas fincadas na areia, detive-me em fitar uma em especial, demoradamente. Sua beleza se destacava de todas as demais. E então, quando pensei em pegá-la parei bruscamente. Não! Não era justo eu querer roubar tamanha obra-prima que a natureza esculpira com tanta primazia. O lugar dela era lá, embelezando o caminho de quem passasse, além do que, se eu a levasse embora, ela perderia o brilho e o encanto que a tornavam fascinante. O que muitas vezes não percebemos é que existem objetos, coisas, pessoas, que em nossa ânsia egoísta de amar queremos ter por perto, arrancar-lhes de seu mundo para satisfazer loucas vaidades e esquecemos que o lugar delas é lá, onde a natureza as conservou, porque só assim, livres para irem onde as "ondas do mar" a carreguem é que manterão o encanto imprevisível do caminho do viajor. Eu não peguei a concha e tão pouco me interessa seu destino. Talvez alguém a tenha pego, ou talvez, ela ainda esteja em algum lugar secreto do mar, esperando seu regresso a praia. Mas, independente do que aconteceu, eu nunca esquecerei a lição que ela me propiciou: Cada um tem seu caminho e não adianta querer mudar isso. Certas pessoas cruzam nossa existência tão rápido, porém permeiam para sempre a beleza, os sorrisos, as lágrimas, a felicidade, o companheirismo, a amizade... As maravilhas que este encontro permitiu.
[texto escrito dia 18/06/2005]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Idéias sem tempo

"Qual é mesmo o caminho de Swann?"
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Leia o conto de Jeanette Beatriz Rozsavolgyi e entenderá como me sinto.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Como se diz "eu te amo"

Meu irmão: “Mi, o quê você vai fazer agora? Ow, vamos assistir filme?”.

Pai: “Comprei aquela bolacha que você gosta. E tem sobremesa nova na geladeira, depois olha lá”.

Mãe: “Fala que eu sou linda e a melhor mãe do mundo!”.

Tio: “Mi, eu não achei a muda de Camélia que você queria, mas trouxe uma outra planta super bonita. Eu mesmo que plantei!”.

Tia: “Eu fiz sequilho pra você. Vem aqui para eu te dar”.

Vó: “Mi? Tá tudo bem? Quando você vem aqui ver a vó?”.

Irys e Vivi: “Vamos fazer amassa-amassa na tia!”.



Eu também amo vocês...

sábado, 6 de outubro de 2007

Pílula

Cartela de remédio em cima da mesa. O milagre da medicina. “Tome um comprimido de 12 em 12 horas para passar a dor”.
Mas a ferida está aqui: amarrada, costurada com o fio de nylon. Cicatriz eterna. Dor eterna.
Saudade que não passa.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Sinal dos tempos

É preciso fazer uma canção
Um trato, uma entrega, uma doação
É preciso a chuva escura, a noite
A solidão
É preciso tudo agora
Um dissabor uma vitória uma confusão
A voz de um instrumento e a tua mão
Que nos faça acordar
Sim
Meias palavras não bastam
É preciso acordar
É preciso mergulhar mais que mil pés
Onde Netuno traça o rumo das marés
É preciso acertar a direção dos pés
Quando os velhos caminhos se esgotam
E os tempos não voltam
Não voltam
É preciso alcançar outra estação
Mesmo com sono mesmo cansado solto como um cão
É preciso o sol e a rua a tarde
A multidão
É preciso
Atravessar lá fora
Um corredor um rio da história uma revolução
O caos de uma palavra nova, um sim e um não
Que nos faça acordar
Sim
Meias palavras não bastam
É preciso acordar
É preciso mergulhar...


Antonio Villeroy

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Amor de longo alcance

Durante anos, separados pelo destino, amaram-se a distância. Sem que um soubesse o paradeiro do outro, procurava-se através dos continentes, cruzavam pontes e oceanos, vasculhavam vielas, indagavam. Bússola da longa busca, levavam a lembrança de um rosto sempre mutante, em que o desejo, incessantemente, redesenhava. Já quase nada havia em comum entre aqueles rostos e a realidade, quando enfim, numa praça se encontraram. Juntos, podiam agora viver a vida com que sempre haviam sonhado. Porém cedo descobriram que a força do seu passado amor era insuperável. Depois de tantos anos de afastamento, não podiam viver senão separados, apaixonadamente desejando-se. E, entre risos e lágrimas, despediram-se, indo morar em cidades distantes.

Marina Colasanti, Contos de Amor Rasgados.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

E a vida continua...

É estranho como em determinados momentos o mundo amanhece irreconhecível. A noite de sexta-feira embalada pelo rock dos anos 50, com direito a passinhos de dança engraçado, gargalhadas e a saia de uma amiga que caiu no meio da balada terminou numa batida de carro, amigos com dores musculares e alguns pontos na cabeça desta que vos escreve.
Voltávamos para casa conversando e rindo no carro, quando, de repente, ouvi uma batida. O carro rodou, os corpos bateram um nos outros. Era como uma cena de filme em que só vemos os pedaços sem entender direito o que está acontecendo. Quando finalmente o carro parou, ergui minha cabeça e vi o capô enterrado num poste.
Só depois soube que um taxista tentou nos ultrapassar na curva e bateu na lateral do carro. É estranho escrever tudo isso... Ainda parece um tanto surreal. Sempre achamos que esse tipo de coisa só acontece com os outros, nunca conosco.
Pessoas que eu nem tinha tanta amizade foram super prestativas. Levaram-me ao hospital, seguraram minha mão enquanto eu levava os pontos, me fizeram rir quando eu sentia dor. Enquanto isso, outros amigos esperavam o guincho no lugar do acidente, deram uma super força para o dono do carro.
Agora só tenho uma certeza: Graças a Deus estamos vivos! E devemos aproveitar a vida ao máximo... Nunca sabemos quando e como ela pode chegar ao fim...

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O último dia

Minha amiga,

Você diz que o melhor, talvez, seja ensurdecer em meio às pessoas que nos cercam. Cada uma falando apenas de si mesma, como eternos lábios que mexem apenas os músculos num exercício estafante de fazer-se dizer “Estou aqui, preste atenção em mim!”.
Num corre-corre diário regado a sons de buzinas, trânsito, metrô lotado e notícias do planalto nas páginas dos jornais, você quer apenas um minuto de paz. Um minuto sentada na grama, acompanhada de papel e caneta ao som de Corinne Bailey. E sonha em percorrer os campos numa tarde primaveril, pedalando na bicicleta.
Eu te digo: “Pensa que é só mais hoje, segunda você estará em outro mundo, com novas possibilidades”, mas você responde melancólica: “Aí é que tá! É só hoje, eu não sei o que vem pela frente”.
As reticências sempre permearam nossas vidas e daqui pra frente não será diferente. Talvez o melhor seja simplesmente “não saber” e deixar-se conduzir por veredas nunca antes percorridas.
Não tema o desconhecido. Como diz sua canção preferida “Você se encontrará em algum lugar, de alguma forma”.






quinta-feira, 27 de setembro de 2007

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Rumos

As duas tranças presas no alto da nuca balançavam de um lado para o outro a cada pulinho que dava na rua. Andava animada em direção ao ponto de ônibus. Deu mais alguns passos e parou em frente à estaca azul de madeira. Sentiu a tia soltar suavemente os dedos entrelaçados a sua mão.
Esperou. Esperou. Esperou. Mas todos os ônibus que passavam a tia dizia que não servia. Até que não agüentou mais e perguntou:
- Como você sabe que esse ônibus não serve, tia?
- É porque ele não passa onde queremos ir.
- E como você sabe que temos que ficar nesse ponto e não no do outro lado da rua?
A tia gargalhou e respondeu:
- Oras, se você quer ir naquele sentido – e apontou para o lado direito – deve ficar no outro ponto. Se quiser ir pra esse sentido – apontou para à esquerda – tem que ficar neste ponto.
- Mas como eu sei a direção do lugar que quero ir?
- Ué, você precisa saber o caminho – respondeu a tia concluindo o assunto.
A menina não entendeu muito bem, mas desistiu de continuar perguntando. Mal ela sabia que passaria a vida toda tentando encontrar a direção certa do seu caminho.

domingo, 23 de setembro de 2007

Mensagem ao semeador

Semeador, despertaste aos clarões da aurora e começaste a semear...
A dura lavra exigia suor e, dia sobre dia, arroteaste o solo, calejando as mãos, entre o orvalho da manhã e a luz das estrelas.
Diante do sacrifício, os mais amados largaram-te a convivência, sequiosos de reconforto...
Mas quanto te viste a sós, sem ninguém que te quisesse as palavras, a natureza conversou contigo, em nome do Céu, e escutaste, surpreendido, as orações da semente, no instante de morrer abandonada para ser fiel à vida; ouviste as confidências das roseiras, escravizadas na gleba, cujas flores brilham nos salões, sem que lhes seja dado outro direito que não aquele de respirar, entre rudes espinhos.
Recolheste a história do trigo que te contou, ainda nos cachos de ouro, como seria triturado nos dentes agudos de implacáveis moinhos, a fim de servir na casa dos homens.
E velhas árvores lascadas e sofredoras te fizeram sentir que Deus lhes havia ensinado, em silêncio, a proteger carinhosamente, as próprias mãos criminosas que lhes decepam os ramos...
Consolado e feliz, trabalhaste, semeador!
Um dia, porém, o campo surgiu engalanado de perfume e beleza e apareceram aqueles que te exigiram a colheita para a festa do mundo...
Choraste na separação das plantas queridas, entretanto, ninguém te viu as lágrimas escondidas entre as rugas do rosto.
Eras sozinho, perante as multidões que te disputavam os frutos e por não haver adestrado verbo primoroso de modo a defender-se, diante das assembléias, e porque a tua presença simples não oferecesse qualquer perspectiva de encanto social.
Os raros amigos de tua causa julgaram prudentes silenciar, envergonhados do rigor de tuas ásperas disciplinas, e da pobreza de tua veste, mas Deus te impeliu à renovação e, conquanto despojado de teus bens mais humildes, procuraste outros climas e outras leiras, onde as tuas mãos quebrantadas e doloridas continuaram a semear...
Semeador dos terrenos do espírito, que te encaneceste na lavoura da luz, qual acontece ao cultivador paciente do solo, não te aflijas, nem desanimes.
Se tempestades sempre novas te vergastam a alma, continua semeando... E, se banimentos e solidão devem constituir a herança transitória do teu destino, recorda o Divino Semador que, embora piedoso e justo, preferiu a cruz por amor à verdade e prossegue semeando, mesmo assim, na certeza de que Deus te basta, porque tudo passa no mundo, menos Deus.

Meimei

sábado, 22 de setembro de 2007

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Teatro Itália comemora um ano dedicado à dança

Na próxima segunda-feira, dia 24, às 20h, o Teatro Itália, TD – Teatro de Dança comemora um ano voltado exclusivamente as manifestações artísticas e corporais.
A noite de aniversário conta com uma programação especial, com quatro coreografias diferentes: “Grassar”, de Umberto da Silva, de SP, “... Still We Sit”, coreografia de Raymundo Costa e Maxine Steinman com a Distrito Cia. de Dança, de Ribeirão Preto, com direção artística de Patty Brown; “Kafka in off”, de Sandro Borelli Cia. de Dança, de SP, com direção artística de Sandro Borelli e por fim, Grand Pas de Deux “O Corsário” com Andréa Thomioka e Israel Alves, bailarinos cedidos pelo Balé da Cidade de São Paulo.


Teatro Itália
Av. Ipiranga, 344 – Subsolo Edifício Itália – SP
E-mail: info@teatrodedança@apaa.org.br
Tel: 11 2189-2555

Grátis – retirada de senhas com 1 hora de antecedência

domingo, 16 de setembro de 2007

Diversidade literária é tema de encontro

“Meu coração pode mover o mundo, porque é o mesmo coração dos congos, bantos e outros desgraçados”. Os versos de Oswaldo de Camargo foram declamados ontem (15), pelo próprio autor, no evento Negras Palavras - I Encontro de Gerações, no Museu Afro Brasil. Com participação do poeta, ensaísta, escritor e pesquisador Edimilson de Almeida Pereira e do Consultor de Literatura do Museu Afro Brasil, Oswaldo de Camargo, o encontro faz parte de uma série de debates destinada a tratar temas da construção imaginária do negro no país.
Com mediação de Neide de A. Almeida, os convidados tiveram como mote principal Os Negros (em) poemas, discutiram a existência da chamada literatura negra ou afro brasileira. De acordo com Camargo, o que caracteriza a poesia negra é, em primeiro momento, o autor se reconhecer como negro, “debruçar-se sobre um texto” e verificar se tem um “conteúdo negro ou negreiro”. Já Pereira atenta para uma questão perigosa em relação à temática. Segundo o autor, um escritor não precisa versar necessariamente sobre a realidade dos negros apenas por ser afro-descendente, “a literatura negra é viável entre tantas outras”, diz.
A implementação da Lei 10.639, que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileiras no nível fundamental e médio da escola também causou polêmica no debate. Quando as questões foram abertas para a platéia, ouve uma enxurrada de perguntas abordando o tema. Para muitos professores, tornou-se um desafio classificar e trabalhar em sala de aula os escritores negros. De acordo com Camargo, a questão étnica não é fator decisivo e único para definir os escritores, mas o conteúdo de seus versos. Edimilson ainda aponta características a serem observadas na classificação da literatura negra. “Quando o autor se assume como negro, assume falar pela coletividade e, além da estética, seu texto tem um estudo político é um instrumento de ação social”, afirma.
No Encontro foi ressaltada a necessidade de incentivar a leitura nos jovens e crianças e enxergar a literatura como centro de transformação social do individuo, independente de sua cor. Os livros são portas para o conhecimento, através deles pode-se visitar lugares longínquos, voar nas asas da fantasia, pesquisar o mundo e o saber científico. Debates como o proposto pelo Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil servem como canal de estudo e reflexão acerca das nossas raízes culturais e a necessidade de modificar o nosso cotidiano por meio da informação.


Para saber mais:
www.museuafrobrasil.com.br

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Imagine as possibilidades

O Sol nasceu dissipando as trevas da noite. Temos um novo dia pela frente. Um presente. Uma nova oportunidade para recomeçar e lutar pelo que acreditamos.



O que você vai fazer com o seu dia?

terça-feira, 11 de setembro de 2007

As regras do jogo

Você deve:

ser bom filho
estudar
trabalhar
se empenhar na faculdade
tirar boas notas
arrumar estágio na área
ser bem sucedido
casar
ter filhos
envelhecer
não questionar nada
.
.
.
.
Onde mudam as regras?

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Someday we'll know

Does anybody know the way to Atlantis?
Or what the wind says when she cries?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A vida paralizada

Aí eu peguei a coberta do Rufus e sai correndo. Ele, destrambelhado, saiu a toda atrás de mim. Meus pés corriam velozmente até tropeçar numa pedra solta no meio do quintal. Senti o impacto do dedo dobrando quando bateu em cheio na superfície cinza. Sai cambaleando, brecada somente pela parede em que quase estatelei o rosto. Foi engraçado.
Entrei pulando num pé só em casa e, mais gargalhando que chorando, só conseguia repetir “Aí, tá doendo”, “tá doendo”. Todos riram com meu riso.
Achei que fosse bobagem, sentia um ligeiro formigamento no dedo mas, minutos depois, a região da pancada ficou roxa, inchada e as dores surgiram mais fortes.
“Você tem um osso bom, hein... Não chegou a quebrar, mas vai ficar com esse dedo imobilizado por cinco dias. E vê se não apronta mais com o cachorro pelo quintal”, disse o médico risonho, após analisar cuidadosamente o raio-X.
Agora, reviro o guarda-roupa e não encontro um sapato que entre no meu pé enfaixado. Não consigo andar muito, mesmo mancando, sem sentir dor. Tenho que ficar parada, imobilizada diante da vida que corre.
Talvez só assim para eu frear um pouco, observar ao meu redor e olhar mais para dentro de mim. Talvez só assim eu acerte a direção dos pés.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

domingo, 26 de agosto de 2007

Póstudo

QUIS
MUDAR TUDO
MUDEI TUDO
AGORAPÓSTUDO
EXTUDO
MUDO

Augusto de Campos

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Extra! Extra!

Domingo (19), por volta das 17h, um feixe de luz pôde ser visto cruzando o céu da cidade.
O Sr. Gato, presente no local, conta o que viu. “Eu estava deitado no telhado de uma casa, lambendo minhas patas, quando vi uma luminosidade diferente no céu. Pensei que era algum tipo de pássaro, mas tinha um rabo muito grande!”. O intenso brilho causou euforia nos moradores do Bairro das Flores. “Eu estava voando, me despedindo do sol, quando me deparei com uma cauda que quanto mais seguia em frente, maior ficava... Incrível!”, diz o Sr. Passero, líder da comunidade dos pardais.
Preocupadas com a repercussão das notícias, as nuvens fizeram uma reunião extraordinária, que durou 5 minutos, até explicarem o ocorrido. Segundo a presidente da Comissão, Sra. Algodão Branco, o brilho intenso visto no céu nada mais era do que uma estrela cadente. “Espero que todos tenham feito pedidos... logo seus sonhos se realizarão”.

[Viva as pequenas coisas da vida.]

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Yo soy o que a água me deu Frida

"Este espetáculo é como outro qualquer, mas gostaria que o assistissem apenas as pessoas de alma já formada"

Sentir-se parado enquanto tudo flui. Ser espectador da vida. Observar os gestos, atos, cenas se descortinando diante dos olhos na representação de uma existência: Frida Kahlo.
A peça Yo soy o que a água me deu Frida, do Teatro das Epifanias, recria a vida e obra da pintora mexicana Frida Kahlo. Famosa por sua excentricidade e seus auto-retratos, Frida é tida como uma artista polêmica, tanto por sua forte personalidade e estilo um tanto usual quanto por assumir seu lado comunista e seus muitos amores (com homens e mulheres).
Utilizando vídeo, dança, música e coreografia, o espetáculo multimídia revela aspectos importantes da existência de Kahlo e provoca uma profunda reflexão acerca de nossa própria existência. "O que fazemos aqui?", "O que é a morte?", "Qual o objetivo da vida", "Deus existe?". Criando e (re)criando a história, cada um de nós tem suas próprias respostas. Frida teve as dela.

Dramaturgia: Daniela Smith
Pesquisa Original: Lilih Curi
Encenação: Wagner de Miranda
Performers: Camilo Brunelli, Daniela Smith, George Sander, Lilih Curi, Manuel Boucinhas e Márcio Martins


Serviço:
De 06/07 a 17/08 - Qui e Sex
Horário: 21h
Sesc Consolação
Espaço Provisório
R. Dr. Vila Nova - 245
Vila Buarque

Tel: 11 3234-3000

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Ridículo

[carta que escrevi num outono qualquer]

Oi, tudo bem?
Nem sei ao certo porque escrever este relato... Acredito que seja para me libertar de tudo que ainda me prende ao passado.
Durante meses senti-me magoada, ferida e em dados momentos até com raiva em relação a tudo que vivemos. Aconteceram tantas mudanças em minha vida de uma só vez que em alguns instantes cheguei a pensar que não conseguiria mais dar um passo a frente. Mas, apenas foram instantes... Pude verificar que a vida sempre se refaz, assim como a semente precisa morrer para a planta crescer, frutificar e tornar a fazer parte da misteriosa essência do equilibrio universal.
Agora, olho para trás e o passado já não me dói, apenas parece que é uma realidade tão distante que é como se eu olhasse e visse a vida de outra pessoa e não a minha. Assim como diz Clarice Lispector: "Perdi alguma coisaque me era essencial, que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável...". Sim, ao seu lado sentia-me estável, segura, como se o amor de menina fosse assegurar uma vida perfeita e previsível, assim como o barco não teme a tempestade pois está preso ao cais. Mas, de repente, a corda que prendia-me ao cais se partiu e fui atirada a uma tempestade tão assustadora que tive que segurar o leme para não perder a direção. E, quando a tempestade passou, pude descobrir um oceano tão vasto e lindo, repleto de surpresas... Aprendi a guiar minha vida tanto em dias de sol como em dias de chuva.
O meu erro foi enxergar em você um porto seguro, quando na verdade deveríamos ter velejado juntos pela incerteza das águas.
E hoje sinto que aquele amor doce, intenso e profundo transformou-se em um enorme carinho por uma pessoa especial, que coloriu meus dias e fez parte da minha história. Fico feliz por sermos amigos e não termos deixado que a mágoa e o ressentimento apagassem isso.
O que aconteceu tinha que acontecer... Você teve suas razões e eu tive as minhas para agirmos de determinadas maneiras, mas saiba que eu quero que você seja muito feliz e que sempre encontrará em mim uma grande amiga.

"Todas as cartas de amor são ridículas", Fernando Pessoa.
[acordei me sentindo ridícula]

domingo, 12 de agosto de 2007

Sozinha na estrada

Cada um de nós tem um lugar dentro de si que mais ninguém conhece... Ninguém alcança. Nele nos sentimos inteiros e, ao mesmo tempo, parte do universo. Somos essência. Guardamos lá todas as nossas dores, amores... Pensamentos mais secretos. Somos nossa própria companhia e isto basta para que continuemos a caminhar.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Sobre caminhos

Para ler e sentir, apenas.

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Quem pouco fala encontra atitude certa
Em todos os acontecimentos
Não desespera quando rugem tufões,
Porque sabe que não tardam a passar;
Sabe que uma chuva não dura o dia todo,
É produzido pelo céu e pela terra.
Se tudo é tão inconstante,
Como não o seria o homem?
Por isto o que importa
É a atitude interna,
Isto é: adaptar-se em silêncio
A todos os acontecimentos.
Quem harmoniza os seus atos Com o Tao da Realidade
Se torna um com ele.
Quem, no seu agir, é determinado
Por seu próprio ego
Identifica-se com o ego
Quem identifica o seu agir com coisa qualquer
É identificado com esta coisa.
Quem sintoniza com a alma do Infinito
Assemelha-se em tudo ao Infinito.
E quem assim se harmoniza com o Infinito
Recebe os benefícios do Infinito.
Tanta confiança recebe cada um,
Quanta confiança ele der.
[Poema 23 do Tao-Te-Ching, de Lao-Tsé]

A sabedoria consiste em identificar o seu agir de acordo com o seu caminho, e se tornar um com ele. Quando você e seu caminho são um só, não é mais você quem age, é Deus que age por ti (esqueça as suas idéias pré-concebidas acerca do que seja Deus, isso não vem ao caso, e ainda não nos é permitido saber. O que vem ao caso é que a ação de Deus é, em essência, dar a si mesmo). Quando você passa a agir desse modo, o medo - nada além da incerteza quanto ao futuro - deixa de ser necessário, e dá seu lugar à fé.
Com a ação correta e a fé correta, nada há mais de que você precise. Você já tem tudo.

Gostou do texto? Recebi do meu amigo Júlio, quando eu passava por um momento difícil. Perdi as contas de quantas vezes li e reli... Obrigada, Júlio! Você é um grande amigo (e escreve muito bem!).

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Novos Traços

Já publiquei aqui um texto do Augusto Paim, apenas não contei como nos conhecemos: por meio de uma pesquisa em comum, o Jornalismo em Quadrinhos, fomos trocando figurinhas pela internet. Paim mantém um blog super bacana, o Cabruuum, desenvolvido inicialmente para o projeto Rumos do Itaú Cultural. Como a proposta foi bem aceita e dá "pano pra manga", o blog continua a todo vapor, completando dois anos em novembro.
Augusto pediu autorização para publicar trechos do meu Trabalho de Conclusão de Curso, o livro-reportagem Novos Traços: a inovação da linguagem jornalística, no Cabruuum. Para conferir, clique aqui.

capa do livro-reportagem que escrevi com Neomisia Silvestre

sábado, 4 de agosto de 2007

Only Time

Who can say where the road goes,
Where the day flows?
Only time...
And who can say if your love grows,
As your heart choose?
Only time...

Who can say why your heart sighs,
As your love flies?
Only time...
And who can say why your heart cries,
When your love lies?
Only time...

Who can say when the roads meet,
That love might be,
In your heart.
And who can say when the day sleeps,
If the night keeps all your heart?
Night keeps all your heart...

Who can say if your love grows,
As your heart choose?
Only time...
And who can say where the road goes,
Where the day flows?
Only time...
Who knows?
Only time...
Who knows?
Only time...

Enya

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Outro lugar

Conversava com os amigos no alto da rampa. Mochila nas costas, jeans surrado, moleton azul anil. Os cabelos soltos balançavam suavemente ao vento, negros como a noite. A noite. Rápido veio a lembrança de como se conheceram: enquanto ela observava jovens dançando num agito frenético, parada numa esquina esperando a bebedeira da amiga passar, os olhos pousaram sobre ele. A hora ia alta, o relógio marcava duas da madrugada. Ele usava óculos, tinha os cabelos em desalinho e trajava uma camiseta com os dizeres "Libertem a Palestina". Os olhares se encontraram. Ela desviou, ficou sem graça, mas, minutos depois, voltou o olhar pra ele. Novamente o encontro dos olhos. Desta vez ficou vermelha e tratou de olhar para outro lugar. Mal percebeu quando ele se aproximou e iniciaram a conversa. Ele era diferente: cara de intelectual, voz grossa, gestos simples. Falava da vida com brilho nos olhos. Perguntou coisas que nunca ninguém havia ousado, assim, de cara. Questionava sobre perspectiva quando o rubro dos lábios os uniu. Ela se encantou, mas sabia que ele precisava partir. Os pés se agitavam para descobrir novos horizontes... Novos corações. Ela entendia, aprendera a deixar as coisas irem.
Meses depois, lá estava ela olhando para o alto da rampa. Pernas tremendo, voz embargada pela emoção, mas os olhos... Esses já não eram mais os mesmos.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Desapego

Vivemos uma época de celebridades, apelos fáceis à riqueza, ao consumismo, às paixões avassaladoras. Transitamos aturdidos por um mundo em que o destaque vai para aquele que mais tem.E a todo instante os comerciais de televisão, os anúncios nas revistas e jornais, os outdoors clamam: “Compre mais. Ostente mais. Tenha mais e melhores coisas”.
É um mundo em que luxo, beleza física, ostentação e vaidade ganharam tal espaço que dominam os julgamentos.
Mede-se a importância das pessoas pela qualidade de seus sapatos, roupas e bolsas.
Dá-se mais atenção ao que possui a casa mais requintada ou situada nos bairros mais famosos e ricos.
Carros bons somente os que têm mais acessórios e impressionam por serem belos, caros e novos. Sempre muito novos.
Adolescentes não desejam repetir roupas e desprezam produtos que não sejam de grife.
Mulheres compram todas as novidades em cosméticos. Homens se regozijam com os ternos caríssimos das vitrines.
Tornamo-nos, enfim, escravos dos objetos. Objetos do desejo que dominam nosso imaginário, que impregnam nossa vida, que consomem nossos recursos monetários.
E como reagimos? Será que estamos fazendo algo - na prática - para combater esse estado de coisas?
No entanto, está nos desejos a grande fonte da nossa tragédia humana. Se superarmos a vontade de ter coisas, já caminhamos muitos passos na estrada do progresso moral.
Experimente olhar as vitrines de um shopping. Olhe bem para os sapatos, roupas, jóias, chocolates, bolsas, enfeites, perfumes.
Por um momento apenas, não se deixe seduzir. Tente ver tudo isso apenas como são: objetos. E diga para si mesmo: “Não tenho isso, mas ainda assim eu sou feliz. Não dependo de nada disso para estar contente”.
Lembre-se: é por desejar tais coisas, sem poder tê-las, que muitos optam pelo crime. Apossam-se de coisas que não são suas, seduzidos pelo brilho passageiro das coisas materiais. Deixam atrás de si frustração, infelicidade. Revolta.
Mas, há também os que se fixam em pessoas. Vêem os outros como algo a ser possuído, guardado, trancado, não compartilhado.
Esses se escravizam aos parceiros, filhos, amigos e parentes. Exigem exclusividade, geral crises e conflitos.Manifestam, a toda hora, possessividade e insegurança. Extravasam egoísmo e não permitem ao outro se expressar ou ser amado por outras pessoas.
É, mais uma vez, o desejo norteando a vida, reduzindo as pessoas a tiranos, enfeando as almas.
Há, por fim, os que se deixam apegar doentiamente às situações.
Um cargo, um status, uma profissão, um relacionamento, um talento que traz destaque. É o suficiente para se deixarem arrastar pelo transitório. Esses amam o brilho, o aplauso ou o que consideram fama, poder, glória.
Para eles, é difícil despedir-se desse momento em que deixam de ser pessoas comuns e passam a ser notados, comentados, invejados.
Qual o segredo de libertar-se de tudo isso. A palavra é desapego. Mas... Como alcançá-lo nesse mundo? Pela lembrança constante de que todas as coisas são passageiras nessa vida. Ou seja: para evitar o sofrimento, a receita é a superação dos desejos.
Na prática, funciona assim: pense que as situações passam, os objetos quebram, as roupas e sapatos se gastam.
Até mesmo as pessoas passam, pois elas viajam, se separam de nós, morrem... E devemos estar preparados para essas eventualidades. É a dinâmica da vida.
Pensando dessa forma, aos poucos a criatura promove uma auto-educação que a ensina a buscar sempre o melhor, mas sem gerar qualquer apelo egoísta.
Ou seja, amar sem exigir nada em troca.
Autor desconhecido
*
Hoje estou cansada de tudo isso. E só.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Quando eu ficar velha

Quando ficar velha, quero usar púrpura
Com chapéu vermelho, que não combina
e fica ridículo em mim
Vou gastar o dinheiro que tenho em uísque,
usarei luvas no verão,
e me queixarei que falta manteiga em casa
Vou sentar-me no meio- fio quando estiver cansada,
comerei todas as ofertas do supermercado,
tocarei as campainhas dos vizinhos,
arrastarei meu guarda-chuva nas grades da praça,
e só assim me sentirei vingada por ter sido tão séria durante a juventude.
Vou andar de chinelos,
arrancar flores do jardim dos outros,
e cuspir no chão.
Vou usar roupas horríveis, engordar sem culpa,
comer um quilo de salsichas no almoço,
ou passar uma semana só na base do pão e picles.
Vou juntar caixinhas, lápis, e rótulos de cerveja.
Mas, enquanto ainda sou jovem,
preciso de um tipo de roupa que me deixe seca em caso de chuva,
tenho que pagar o aluguel,
não posso dizer palavrão na rua,
sirvo de exemplo para a infância,
preciso ler jornal, estar informada,
convidar meus conhecidos para jantar.
Por isso, quem sabe
eu deveria começar a treinar desde agora?
Assim ninguém vai ficar chocado
quando de repente, eu ficar velha
e começar a usar púrpura
Jenny Josephy

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Animação Vida Maria ganha as telas do Brasil

O curta-metragem de Márcio Ramos retrata a difícil vida das mulheres nordestinas

* Texto que escrevi publicado na Revista Paradoxo.


A mão segura firme a caneta. Desenha uma reta, acrescenta um pingo, trêmulamente vai dando forma às letras do alfabeto até surgir o nome. Aos cinco anos, Maria José já tem a existência traçada: deixa os estudos para trabalhar, crescer, casar, ter filhos e envelhecer.
A cena descrita, tão real no dia-a-dia de centenas de mulheres, é a animação Vida Maria de Márcio Ramos que retrata a dura vida das sertanejas condenadas, geração após geração, a largar os sonhos da infância para trabalhar.
Com rigor estético impressionante, a câmera passeia pelo rosto da personagem enquanto soca o pilão e mostra, gradativamente, seu envelhecimento. Enquanto trabalha, Maria se casa, muda sua forma física duas, três, sete vezes, vela o corpo do marido e vê repetir a mesma história na vida de tantas outras Marias.
Produzido em computação gráfica 3D, o curta-metragem mostra personagens e cenários modelados com texturas e cores, consegue retratar com exatidão a paisagem nordestina a partir de pesquisas no Sertão Cearense, no Nordeste do Brasil.
Após ser considerado o melhor curta do 17º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, ter destaque no 15º Anima Mundi e ser premiado pelo país afora, o recente título de Ramos faz parte da sessão de curtas do 2º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que acontece de 23 a 29 de julho, com sessões gratuitas no Memorial da América Latina, Cinesesc e na Sala Cinemateca. Com 120 filmes na programação e curadoria de João Batista, o Festival tem por objetivo discutir a singularidade estética da cinematografia latino-americana.
Além da exibição de filmes, organizados em sete sessões, o público também acompanha um ciclo de debates com a realização de sete mesas redondas a partir do dia 25 (quarta-feira), no mini-auditório do Memorial da América Latina. Com destaque na edição deste ano, o principal convidado e grande homenageado do Festival é o cineasta mexicano Paul Leduc, que participa do debate agendado para o dia 28 de julho (sábado, às 14h).
Não só para fãs de animação, mas para o público em geral, o Festival é um ótimo canal para discutir, repensar e abrir novos caminhos para a produção latino-americana.

Vida Maria
.....................
[Brasil, 2006]
Direção: Márcio Ramos
Gênero: Animação
Duração: 08'34"
Quando: 29/07 [domingo], a partir das 18h
Local: CineSesc – Rua Augusta, 2075, Jardins - São Paulo - 329 lugares
Entrada franca
Veja no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=6-1CjDCmEiM
Mais informações sobre o 2º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo aqui.




sábado, 21 de julho de 2007

Numa rua do centro da cidade

- Está apaixonada?
- Não. Só se for por eu mesma. E você, está apaixonado?
- Isso é uma questão filosófica. Pode-se estar apaixonado pelos ideais, sonhos, pela vida...
- É verdade. Se depender de ideais eu estou apaixonadíssima.
- Quais são?
- Sou recém-formada, tenho uma infinidade de sonhos na minha área, ainda tenho muito que conquistar...
- Já reparou que a maioria das pessoas lutam para ser exploradas? Pra ficarem presas a certos papéis?
- É... E ainda lutam por isso. Ainda lutam...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Negros do Rio Grande do Sul

Augusto Pain é um jornalista gaúcho. Desenvolve pesquisas sobre jornalismo em quadrinhos e gosta da cultura afrobrasileira. O texto abaixo foi escrito por ele para um concurso de Jornalismo Cultural.
Negros do Rio Grande do Sul
O menino-escravo perde um cavalo da estância e, como castigo, é torturado por seu patrão até quase morrer, sendo salvo por Nossa Senhora. É o que conta a lenda do Negrinho do Pastoreio, uma das mais conhecidas no Rio Grande do Sul, onde o herói é negro e o vilão é branco. Um reflexo da situação dos negros do extremo sul do Brasil no século XVIII, quando o trabalho escravo era utilizado para a produção de charque. O primeiro recenseamento, feito em 1780 pelo tenente Córdova, apontava a existência de mais de 5 mil negros, o equivalente a 28,4% da população gaúcha na época.
A professora de Comunicação Rhéa Sylvia Gartnër, que estuda a África há mais de 30 anos, especifica a origem desses povos: “Os africanos e descendentes entrados à força no Rio Grande do Sul, de 1737 a 1853, pertenciam a duas culturas: a sudanesa e a banto. Eles se denominavam genericamente de Angolas, Congos, Minas e Moçambique”. Segundo Gartnër, porém, existe registro da presença africana no estado já em 1635, antes do início da colonização portuguesa. Isso se deve ao fato de a região do Prata ter feito parte da rota do tráfico negreiro promovido pelos espanhóis.
Mais tarde, os afro-gaúchos participaram da Revolução Farroupilha (1835-1845) no Corpo dos Lanceiros Negros, escravos que pegaram nas armas com a promessa de alforria ao fim do conflito. Pelos cálculos do exército imperial, os negros compunham de um terço à metade de todo o contingente do exército rebelde.

O afro-gauchismo

Atualmente, segundo o IBGE, apenas 5,3% da população do Rio Grande do Sul se auto-declara de cor preta. Ainda assim, é o maior percentual da região Sul do Brasil.
Esse branqueamento se deve principalmente à imigração alemã e italiana no século XIX, além da chegada de poloneses e judeus ao estado no século XX.
Segundo o tradicionalista Chico Sosa, que estuda a origem dos elementos da cultura sul-riograndense, o gaúcho primitivo, também conhecido como pêlo-duro, é resultado da mistura dos índios com os espanhóis na Região do Prata. O hábito de se tomar chimarrão, aliás, é herdado dos índios, sendo que a palavra “cimarron”, que deu origem ao termo, é espanhola e quer dizer xucro, bárbaro, bruto. Sosa afirma, porém, que as influências africana e indígena na cultura gaúcha se confundem.
Os negros ingressaram no Rio Grande do Sul no século XVII e, com isso, passaram a participar do processo de sincretismo que veio a formar a cultura gaúcha. Segundo Sosa, toda a percussão da música tradicionalista sul-riograndense tem influência do ritmo africano. Como exemplos, a “vanera”, que é uma dança cubana que foi pra Espanha e depois chegou ao estado como “vanerão”, e a “polca”, que é de origem polaca mas pegou influência africana. Outra dança típica, a “milonga”, tem sua nomenclatura originada no verbo “milonguear”, que significava “falar” para os negros que formaram a cultura gaúcha.
No livro O Linguajar do Gaúcho Brasileiro, o historiador Dante de Laytano aponta mais alguns desses africanismos lingüísticos em palavras como “angico” (árvore), “banzo” (tristonho, pensativo), “bocó” (pessoa tola), “bugiganga” (coisa pequena, insignifcante), “caçula” (filho mais moço), “cafundó” (lugar distante), “cambada” (corja de desordeiros), “japona” (casaco de pano grosso) e “marimbondo” (inseto), dentre outros.
Também existem estudos que afirmam uma forte presença da prática de religiões de origem africana no estado. O batuque e a umbanda são praticados até mesmo em cidades colonizadas por alemães e italianos.
A professora Gartnër, que possui a maior biblioteca sobre o continente africano do estado, dá exemplos da contribuição africana na culinária. O doce de côco, a canjica e o quibebe são algumas dessas comidas que tiveram origem no outro lado do Atlântico. Para ela, porém, a maior influência dos negros está na maneira de pensar. A alegria, a bondade, a tolerância, o amor à paz e a bravura são, na sua visão, influências negras no caráter não só do gaúcho, mas de todo brasileiro.não é assim tão fácil.
Mais sobre o Augusto aqui.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Quem é o louco?

Não conheço a Talita Guedes, mas é impossível não fazer um comentário sobre o belo texto que ela escreveu no blog do .lucas, o condussão.
Antes de querer ser jornalista eu quis ser psiquiatra, tocada pela luta antimanicomial.
Sempre me peguei pensando na questão: quem é mais louco? Serão os "loucos" propriamente ditos, excluídos simplesmente por não agirem de acordo com as normas da sociedade ou nós, considerados "normais", trancafiados nesse mundo capitalista em que a relação poder x lucro fala sempre mais alto?
Os anos passaram. Descobri minha aptidão para correr atrás dos fatos. Desisti de ser psiquiatra. Mas essa questão até hoje me atormenta.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sumi como resposta

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar. Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar. Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência".

salve Martha Medeiros

Passou...

Essa semana foi corrida, não tive tempo de escrever no blog, apesar de várias idéias surgirem em minha mente. Pensei em escrever sobre o Anima Mundi 2007, já que fui na abertura para imprensa na terça-feira e vi ótimos trabalhos de animação. Pensei também em escrever sobre como me senti estranha no Troféu HQMIX (a premiação foi na quarta-feira) já que não ganhei o troféu destinado à tese de graduação. Mas, como já escrevi aqui, é engraçado como a vida dá voltas...
Hoje meu relógio despertou às 6h e, como de praxe, desliguei e voltei a dormir. Logo em seguida me acordaram para mais um dia de trabalho. Mais um dia para a vida. Sai com a sensação de que meu dia seria bom, não sei porque. Talvez você leia isso e ache uma fantasia da minha cabeça essa idéia de "sensação". Enfim, tudo corria normal até que uma ação aparentemente banal resultou num grande acontecimento. Coisa boa.
Certa vez alguém me disse que coisas boas acontecem quando a gente menos espera. Assino em baixo. Não vou me estender muito falando sobre isso, já que tenho outras atividades para fazer. Só passei mesmo para escrever que não abandonei o blog, só não tenho escrito ultimamente por pura falta de tempo.
É isso. Assim que possível passo novamente por aqui.


(...) E se entre meus leitores há alguma pessoa que na passagem do ano teve apenas um amargo encontro consigo mesmo, e viveu esse instante na solidão, na tristeza, na desesperança, no sofrimento, ou apenas no odioso tédio, que a esse alguém me seja permitido dizer: "Vinde. Vamos tocar janeiro, vamos por fevereiro e março e abril e maio, e tudo que vier; durante o ano a gente o esquece, e se esquece; é menos mal. E às vezes, ao dobrar uma semana ou quinzena, às vezes dá uma aragem. Dá, sim; dá, e com sombra e água fresca. E quem vo-lo diz é quem já pegou muito no sol nos desertos e muito mormaço nas charnecas da existência. Coragem, a Terra está rodando; vosso mal terá cura. E se não tiver, refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão."

Rubem Braga, A Borboleta Amarela.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Atendendo a pedidos...

A partir de hoje tem espaço para comentários no blog. A princípio, não queria deixar pra evitar coisas do tipo "axim", "miguxa"e "KaLkEr" ou então comentários em branco... mas... Agora taí. Críticas, comentários e discussões à vontade.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Santos Dumont

Neomisia Silvestre é jornalista. Gosta de Carmem Miranda, Wandula, dança indiana e tem fascinação por Santos Dumont. Ela escreveu o texto abaixo para um concurso de redação nacional, em comemoração ao Centenário do vôo do 14 BIS. Ficou entre 50 selecionados e teve o texto publicado em um livro.

Criou asas e voou...
Quando lhe deram a notícia, mal pôde acreditar.
Era sua primeira
viagem de avião.
"Atenção senhores passageiros com destino à...". O vôo estava marcado para manhã, voaria na luz do dia de sol. No aeroporto: pessoas, destinos, horários, check in, check out. A janela era vista só minha. Uma pista livre à frente. "Coloquem o cinto de segurança...". O coração acelerava com o girar dos motores cada vez mais rápido, cada vez mais alto. Sob o nariz tudo foi se tornando pequeno, limitado, acanhado. "Não é permitido o uso de...". Não conseguia imaginar como voar era possível. Uma leve turbulência. Um medo. Uma voz: "Desejamos a todos uma boa viagem".
O céu era doce feito algodão
Azul tinha a imensidão do mar
Nuvens faziam sombra no baixo
Casas, quadras e estradas
viraram num dia, um só
Pequenos rios e campos
À essa altura o vento
corria forte nas asas
hélice gira, girassol
fuselagem, rodas
leme, direção
aeroplano
aviador
vento
pouso
As horas, junto ao avião, voaram.
Graças àquele que criou asas e voou.
Não era anjo, nem santo, apenas
Dumont.
No 20 de julho de 1873, na fazenda Cabangú, em Minas Gerais, nascia Alberto Santos Dumont, filho do engenheiro Henrique e Francisca de Paula Dumont. Na infância, já demonstrava certo interesse pela inventividade e tinha como referência as leituras do ficcionista Júlio Verne. Dumont já se encantava com o subir dos balões de São João.
Aos 18 anos, emancipação concedida. Deu início aos estudos em física, química, mecânica e eletricidade, em Paris. Acreditava seu pai que o futuro da humanidade estaria na mecânica. Volta da capital francesa trazendo o primeiro automóvel para o Brasil, um Peugeot Cupê, em 1892.
Como uma grande bola de sabão, o seu primeiro balão, o menor, o mais lindo e o único que teve um nome: "Brasil", com 6 metros de diâmetro e 113m³ de profundidade. O balão fez Dumont navegar pelo ar.
Sua vida de inventor estava marcada pelo experimento com o triciclo a petróleo, no qual, posteriormente, o motor a gasolina seria utilizado nos balões que dominariam os ares. O balão n° 1 foi construído: hélice, bobinas, motor de duplo cilindro, escapamento, carburador... Dumont flutuava. Sofreu alguns acidentes, é verdade, mas a inquietação e a vontade por novos dirigíveis o fizeram seguir com o n° 2, o n° 3, o n° 4, o n° 5 e o n° 6 que conquistou o prêmio Deutsch, em 1901. Foi ele, a bordo do seu balão n° 6, o primeiro a contornar a Torre Eiffel e a comprovar a dirigibilidade para uma multidão que acompanhava a trajetória.
Aos 32 anos, faz o balão n° 7 e devido ao acidente com o dirigível n° 5, Dumont não constrói o n° 8, mas continua criando. Dentre as várias experiências em Bagatelle, um aeroplano suspenso pelo balão n° 14 foi batizado, pelas pessoas que acompanhavam o feito, de 14 bis. A invenção, com base no vôo do pato Canard, em que a direção é dada pela cabeça, o primogênito dos aviões voou 60 metros e subiu 2 de altura, em 23 de outubro de 1906.
Dumont foi das asas à imaginação. A ele é atribuído a invenção do relógio de pulso: precisava ver as horas ao pilotar. Do chuveiro com misturador de água quente e fria ao terno risca de giz, também. A elegância de seu 1,53m era fundamental: longas golas, chapéu e luvas completavam o figurino. Além da casa por ele projetada, a "Encatada", onde vivia em Petrópolis.
Não se casou, mas uma senhorita marcaria para sempre sua história. Sucessivamente, ele continuou a fazer os dirigíveis até chegar ao n° 20: "Demoiselle". O modelo atual do avião, até então desconhecido, foi o marco da aeronáutica passando a ser copiado e ganhando popularidade em todo o mundo.
Aos 59 anos, suicida-se no hotel La Grand Plage Guarujá, em São Paulo. O personagem histórico, dos 25 aos 35 anos, resolve o desejo de voar do homem. Santos Dumont acompanhou uma evolução em termos de tecnologia e história. O que ele viu.
O que nós veremos?

terça-feira, 3 de julho de 2007

"Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira".

Cecília Meireles


* A frase acima é um trecho de um poema. Resume como me sinto.
**Não tenho entrado com a mesma frequência de antes na internet. Assim que der, atualizo aqui.

sábado, 30 de junho de 2007

Espetáculo gratuito ao anoitecer

Sempre gostei de olhar pro céu. Observar o movimento das nuvens durante o dia ou o intenso brilho das estrelas na escuridão da noite me acalma, dá paz. Me fascina o espetáculo que a natureza nos proporciona dia após dia.
Assim que o Sol se põe, se olharmos para o firmamento na direção oeste, podemos ver um ponto de luz tão intenso que até parece ser uma estrela, tanto é que muitos o chamam de Estrela D´alva ou Estrela Vésper. De fato, depois do Sol e da Lua é o ponto mais brilhante que existe no céu mas, ao contrário do que muitos pensam, não é uma estrela: trata-se do planeta Vênus.
Acho incrível poder ver um planeta que está a 84 milhões de distância da Terra, mesmo que seja apenas um pontinho no céu. Um pouco acima de Vênus, um outro ponto menos brilhante também pode ser visto: é o planeta Saturno. Hoje à noite, os dois planetas vão se alinhar num verdadeiro show.
Se esse fenômeno tem algum significado especial? Não sei. Para místicos ou algo do tipo pode até ser, mas esse não é o meu caso. Acredito mesmo que vale a pena olhar para o céu e contemplar o universo... É de graça.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Me deixando levar...

Sabe o que é o melhor da vida? É que por mais que a gente faça planos, calcule todos os riscos e tente se preservar de algumas coisas, na maioria das vezes nada acontece como imaginávamos. Ao contrário do que possa parecer, isso não é uma visão pessimista, mas sim realista e, de certa forma, encantadora. Nós nunca sabemos ao certo o que vamos encontrar na próxima esquina. Para onde nossos passos vão nos guiar. Qual o rumo certo a tomar. Temos apenas que seguir em frente, impulsionados pela intuição, pelo que acreditamos ser certo. E aí, quando deixamos que o inesperado aconteça e passamos a acreditar que a Vida nos conduz pelo melhor caminho, as coisas começam a acontecer...


Ah! Hoje a Marta me mandou a frase abaixo pelo orkut. Achei bonita e resolvi colocar aqui:

“Aprende a relacionar-te com o teu silêncio interior e recorda que tudo nesta vida tem um propósito, que não há erros nem coincidências: todos os acontecimentos são bençãos que nos são dadas para que aprendamos algo através delas".
Elizabeth Kubler-Ross

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não quere-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a magica presença das estrelas!


Mário Quintana

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Era uma vez...

Dia 10 de maio recebi o convite: “queria um texto seu pra colocar no meu blogue... texto simples, curto... assunto: queria que você falasse da Tatiana Belinki, de como foi seu encontro com ela, quando você ligou na casa dela.... o que acha?”.

Receosa com a responsabilidade, topei o pedido feito por meu amigo .lucas guedes. Jornalista, pesquisador, um tanto revolucionário e completamente imprevisível, .lucas sempre põe o ponto final antes do início de qualquer coisa. Um sinal de que nem tudo na vida tem um fim...

O resultado da entrevista com Tatiana você confere aqui.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Falta um tanto ainda

As palavras revelaram a menina um mundo encantado, onde ela podia ser quem quisesse. Bastava abrir a alma e o universo das idéias se descortinava bem a sua frente.
Por vezes, ela acreditava não ser capaz de entender tantas coisas e se perdia entre uma citação, uma sintaxe e um desenho lá adiante. Quando isso acontecia, um leve desespero invadia seu intimo e o tempo, como um juiz tirano, a condenava por não ter aproveitado as horas que ele concedera. Tudo bem que foram poucas, mas cabia a ela administrar os ponteiros do seu relógio. Para que dormir? O sono e o cansaço foram feito para os fracos. Porque sentir solidão? Ela não podia gastar seu precioso tempo com um sentimento tão vil... Sim. Ela era culpada por cometer o crime de amar o campo das idéias.
E agora não tinha mais volta. Flagrada na cena do crime, de arma em punho e tinta azul suja na mão, ela apenas clamava por mais tempo...

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Crepúsculo

"Só no dia em que me dei conta de minha própria ignorância é que comecei a escrever as coisas que sentia".
Samuel Beckett

A luz do dia e o escuro da noite se fundiram. O relógio marcava 20h. O dia: 17 de junho, o último de apresentação.
Em cartaz desde o dia 11 de maio, Crepúsculo lotou a sala Paulo Emílio Salles, do Centro Cultural São Paulo. Com direção de Rubens Rusche, o espetáculo passeia pelo chamado “teatro do absurdo” de Samuel Beckett (1906-1989). Composto por três peças curtas do escritor e dramaturgo irlandês, “Solo”, “Passos” e “Improviso de Ohio”, Crepúsculo incomoda. Provoca. Vai ao fundo das emoções. Seja pelas longas pausas, pelo ritmo cadenciado das falas ou pela pouca luz. Mais do que ver e ouvir é para sentir.



Cena de Crepúsculo - Na foto: Antonio Galleão

Samuel Beckett


quinta-feira, 14 de junho de 2007

No País das Maravilhas

- Podia-me dizer, por favor, qual é o caminho para sair daqui? - Perguntou Alice.

- Isso depende muito do lugar para onde você quer ir. - disse o Gato.

- Não me importa muito onde... - disse Alice.

- Nesse caso não importa por onde você vá. - Disse o Gato.

- ...contanto que eu chegue a algum lugar. - acrescentou Alice como explicação.

- É claro que isso acontecerá. - Disse o Gato - desde que você ande durante algum tempo.

Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Chega às livrarias a segunda antologia do Pasquim

Setembro de 68. Numa mesa de bar, no bairro de Ipanema, alguns amigos se reuniam e, entre um chopp e outro, decidiam o nome de um jornal. “Que tal Pasquim? Vão nos chamar de pasquim (jornal difamador, folheto injurioso), terão de inventar outros nomes para nos xingar”, propôs Jaguar. A princípio a sugestão não agradou, mas como todos estavam cansados de tanta reunião, o nome foi aceito. Começaria aí uma trajetória de 22 anos que marcaria para sempre a linguagem jornalística.
Famoso por seus textos debochados, irônicos e irreverentes, o Pasquim inventou modismos como “paca”, “sifu”, “duca”, “putsgrila”. Levou as gírias ipanemense para as páginas do tablóide e tirou o “paletó e a gravata do jornalismo” deixando os textos mais próximos da linguagem coloquial. Escreviam como se fala.
Com um time de jornalistas de dar inveja, a Patota do Pasquim era composta por Jaguar, Millôr, Ziraldo, Henfil, Tarso de Castro, Ivan Lessa, Sérgio Augusto, Sérgio Cabral, Claudius, Fortuna, Paulo Francis e colaboradores como Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Ferreira Gullar e Glauber Rocha, sem falar no mascote do jornal: Sigmund Freud, o rato Sig. Em tempos de Ditadura Militar (1964-1985), conseguiam driblar a censura entre um quadrinho aqui, um cartun acolá. Suas páginas eram recheadas de humor, uma resistência inteligente contra o regime. Deixou sua marca em toda uma geração...
Mas agora, quem quiser matar a saudade do hebdomadário ipanemense não precisa mais ir à biblioteca ou ao arquivo do Estado. Já chegou às livrarias o segundo volume da antologia do Pasquim (Desiderata, 368 páginas), que reúne os melhores trabalhos entre os números 150 e 300 (anos de 1972 e 73) do jornal, organizados por Sérgio Augusto e Jaguar.
Se quem leu o primeiro volume da antologia (publicada no ano passado) gostou, pode se preparar para mais horas e horas de leitura perspicaz e bem humorada com o segundo.








domingo, 10 de junho de 2007

9 de junho, 17h40


Fiquei na sala de cinema até acabar os créditos do filme e sai de lá me sentindo estranha, embalada pela bela trilha sonora... "Só deixo minha alma Só deixo meu coração Na mão de quem anda solto...".
.
Não adianta querer prever a vida. Controlar os passos. Cronometrar o tempo. É mais fácil e belo se deixar levar...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Lição catorze

Subi as escadas vagarosamente. Quando cheguei ao último cômodo da casa, olhei as pesadas caixas que me aguardavam. Me sentia numa expedição arqueológica, à procura de algum tesouro escondido, tão bem escondido, que eu nem lembrava mais que existia.
Retirei sacolas, pincéis, frascos de tinta, até enxergar a abertura das caixas de papelão. Não sabia exatamente o que tinha ido buscar ali, mas sabia que tinha que mexer, fuçar, olhar. Abri. Só encontrei material pedagógico, livros didáticos, carimbos, lápis de cor, provas e trabalhos de ex-alunos da minha mãe. As duas primeiras caixas só continham isso. Nas outras três achei peças de computador quebrado, ferramentas, fios... Coisas do meu pai. Já estava exausta, mas sabia que precisava chegar nas últimas caixas, as que aparentavam ser mais pesadas. Olhei para fora da janela. O sol já estava avermelhado, anunciando o fim de mais um dia. Foi quando achei, sem mesmo saber que o estava procurando. Em baixo de livros de filosofia, matemática e literatura brasileira estava meu livro de português da 5ª série. A capa surrada, as páginas cheias de orelhas, a contracapa riscada de caneta com meu nome. Larguei tudo esparramado e carreguei o livro pra área do lado de fora. Sentei no chão e, antes de lê-lo, olhei mais uma vez para o céu e para os últimos raios solares que tornavam as nuvens alaranjadas. Tantas lembranças me vieram à tona... Minha mãe sempre, desde a mais tenra idade, me incentivou a ler. Comprava livrinhos de desenho, poesia, historinhas... Lembro até hoje do “Pirilampo telegrafista”, da “Bruxa Onilda” e até de um livro em que se podia inventar o final. Dessa forma, na 5ª série eu já devorava qualquer coisa com letras que colocavam na minha frente. Nas aulas de português, quando a professora nos fazia ler em conjunto algum capítulo do bendito livro, eu já sabia de cor e salteado a história. O texto da lição catorze então, era o que eu mais gostava. Gostei tanto que, antes da professora nos passar, eu já tinha divulgado pra sala inteira o quanto era divertida a história em que um pastor alemão respondeu uma carta de uma família inglesa, que iria passar as férias na Alemanha, confundindo a abreviatura da palavra W.C., “water-closed” (significa banheiro), com a sigla W.C. (capela da religião inglesa White Chapel).
Engraçado... Acho que foi daí que eu comecei a querer fazer algo da minha vida que envolvesse leitura, pesquisa e escrita.
Voltei a fuçar o livro. Cada capítulo que eu abria me trazia novas lembranças... Cheguei ao último deles. Falava da linguagem jornalística e tinha um exercício intitulado “O repórter agora é você”. Li surpresa isso e fechei o livro. Dez anos depois das minhas aventuras literárias no ensino fundamental, eu faria meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre linguagem jornalística. Incrível como, às vezes, passar uma tarde despretensiosa em casa nos faz encontrar fragmentos de nossa existência.
Quando eu me preparava para arrumar a bagunça que tinha feito, caiu do mesmo livro da 5ª série, um papel com a seguinte mensagem:

Meta
A gente busca

Caminho
A gente acha

Desafio
A gente enfrenta

Vida
A gente inventa

Saudades
A gente mata

Sonho...
A gente realiza!

(Autor desconhecido)