domingo, 21 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A mais nova piada nacional

Nesta semana o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão e o seu presidente, ministro Gilmar Mendes, chegou a fazer a lastimável comparação entre a atividade do jornalista e a do cozinheiro.
Enquanto isso, mensagens indignadas e com um humor escrachado circulam na Internet, como a que recebi abaixo.



... Seria cômico, se não fosse trágico.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Instruções para se desapaixonar

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Respire fundo
e liberte as
borboletas
do estômago.

domingo, 14 de junho de 2009

Uma rosa islandesa

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"Bjartar Vonir RætastEr Við Göngum BæinnBrosum Og Hlæjum GlaðirVinátta Og Þreyta MætastHöldum Upp Á DaginnOg Fögnum Tveggja Ára BiðFjarlægur Draumur FæðistBorðum Og Drekkum SaddirOg Borgum Fyrir Okkur"
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Não dá para entender nada, mas o trecho acima é da música "Ágætis Byrjun", da banda islandesa Sigur Rós. Apesar de o seu primeiro álbum "Von" ter sido lançado em 1997, somente esta semana conheci o som impressionante e belo do grupo. Desde então, não consigo parar de escutar.


sábado, 13 de junho de 2009

Sobre pontes e muros

Para C.S. Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia, existem três maneiras de escrever para crianças: a primeira, em que o autor dá “ao público o que ele quer”, tentando identificar as suas preferências, como faria um antropólogo ou um caixeiro viajante; a segunda – praticada por Lewis Carroll, Keneth Grahame e J.R.R.Tolkien –, em que o livro publicado nasce de uma história contada de viva voz e talvez espontaneamente a uma determinada criança; e a terceira, que consiste em escrever uma história para crianças "porque é a melhor forma artística de expressar algo que você quer dizer", "a única que sou capaz de usar", conta o escritor. Esta mesma fórmula é utilizada por Katherine Paterson, autora de “Ponte para Terabítia”, romance escrito na tentativa de ajudar o seu filho mais novo, David, a lidar com a perda de uma amiga.

Na história, Jesse Aarons acaba de ir para a 5ª série e faz de tudo para ser o corredor mais rápido de sua turma até ser derrotado por Leslie Burke, uma menina novata no colégio e que acaba de se mudar para a região. Apesar de inicialmente sentir raiva, com o tempo o garoto vê nascer uma amizade sincera e repleta de cumplicidade, que tem como fruto a criação de Terabítia, um reino imaginário baseado em “A Viagem do Peregrino da Alvorada”, de Lewis, que cita a ilha de Terebíntia.
Ganhadora das medalhas John Newbery, em 1978, e Hans Christian Andersen, em 1998, e do Prêmio Astrid Lindgren, em 2006, o grande mérito da obra de Katherine está em tratar temas densos de maneira singela, sem subestimar os jovens leitores. Partindo do ponto de vista de Jess, a escritora norte-americana aborda as dificuldades enfrentadas na família, no colégio e nos relacionamentos como um árduo e complexo processo de amadurecimento.
Para quem se aventurar pela obra fica aqui o recado: é praticamente impossível sair ileso da leitura. Mas é este o papel de toda boa Literatura, não é mesmo?

quinta-feira, 11 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A verdade aprisionada

Foi gerada no corpo, mas nasceu pela boca. Mal saiu para o mundo e trataram de escondê-la, tamanho foi o horror que tomou conta do vilarejo, da cidade e do país. Acorrentada na cela, os seus gritos ecoavam longe, mas eram tão baixos e miúdos que as pessoas não davam crédito ou fingiam não ouvir. Os anos foram se passando, os murmúrios findando e chegou um tempo em que todos acreditavam que o fato não passava de lenda. Ninguém desconfiava de que a verdade jazia ali, aprisionada nas profundezas.

domingo, 7 de junho de 2009

Uma viagem sem fim

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Em “Reflexão sobre uma viagem sem fim”, o escritor amazonense Milton Hatoum relata o seu encontro com Felix Delatour, um europeu que morava em um sobrado em Manaus e dava aulas de francês. “Numa primeira mirada a floresta é uma linha escura, não se consegue assimilar muita coisa. Mas no meio da escuridão há um mundo em movimento, milhões de seres expostos à luz e à sombra”, diz o professor a Hatoum, segundo o diálogo presente no conto.
Assim que cheguei à capital do Amazonas, sozinha, sabia que iria passar por situações inusitadas, mas não contava que a forma como me sentiria em relação a elas é que seria o mais importante. Quando adentrei a mata e percorri o rio numa canoa era como se eu estivesse em um santuário, sentindo a vida pulsar, latente, nas árvores, no murmúrio do vento nas folhas, no canto dos pássaros, na beleza dos peixes. A minha volta outro universo existia, desencadeando dentro de mim inúmeras sensações até então desconhecidas. Eu sentia, mas não compreendia. Apenas agora, um mês depois que retornei, consigo escrever sobre algumas coisas que vivi. A impressão que tenho é que as lembranças aqui publicadas não se apagarão com o tempo.
Quando eu parti não deixei para trás apenas a paisagem amazônica, mas um punhado de pessoas, histórias, sonhos e inquietações. Um pedaço da vida. O verde da mata, o branco da nuvem, o rosa do boto, o cinza da chuva e o púrpura do entardecer emolduravam rostos anônimos, pequenas cintilações de almas no ignoto. Lembro do Seu Maurício, um ribeirinho de 63 anos que trabalhou a vida todo como seringueiro e já no limite das forças viu toda a sua plantação de couve ser inundada pela chuva. “Antes dava 700 por semana, agora nem sete centavos”, me contou. Apesar da tragédia, ele não tinha o semblante triste; nutria uma profunda fé na vida e mantinha um estranho brilho nos olhos.
Também me recordo de um homem com uma pose arrogante e soberba, mas que soltou altas gargalhadas quando entrou comigo numa brincadeira de roda-roda com as crianças indígenas, as segurando pelos braços e girando os seus corpinhos para o alto.
Cada pessoa viaja por um motivo diferente. Conheço verdadeiros mochileiros que cruzam o país ao melhor estilo beatnik, pegando carona com caminhoneiros e dividindo a comida com estranhos pelo simples prazer de conhecer realidades distintas e de se aventurar pelo desconhecido. É tentador estar em um lugar e não dar satisfação a ninguém, ser apenas mais um rosto na multidão e vislumbrar outras formas de existir. Apesar dessa sede de culturas e de vivências, sempre acreditei que a maioria dos que se arriscam pela estrada o fazem porque estão à cata de algo maior, talvez em busca de si mesmos, num eterno ir e vir. É engraçado como passamos o tempo todo em busca de um significado e, no fim das contas, só o encontramos uns nos outros. Quando cruzamos com pessoas tão diferentes – como jovens professores que largariam tudo para lecionar em um lugar esquecido pelo País, ribeirinhos que vivem no limite da pobreza e que possuem uma sabedoria que não se aprende em nenhuma universidade do mundo, gays que ousam assumir a sua sexualidade em uma sociedade repleta de preconceitos, guias que conhecem a floresta como a palma de suas mãos, mãe e filha que passam apenas dois meses por ano juntas e uma empresária linda, inteligente e solitária – e conseguimos enxergar que podemos ser de cores, raças, credos e regiões distintas, mas no fim das contas somos todos iguais. Vivemos em um mundo de estranhos apenas esperando que alguém nos estenda a mão e nos mostre que não estamos sozinhos nessa incrível jornada que é viver.



sexta-feira, 5 de junho de 2009

Entre dois mundos

Cheguei ao hostel do centro de Manaus por volta das 16h, em pleno feriado. A cidade estava praticamente deserta e eu já estava preocupada com o que iria fazer nas próximas horas. Resolvi dar uma volta na praça da rua de cima e, para a minha surpresa, o teatro Amazonas estava aberto à visitação. Fiz um tour monitorado, conferi se ainda tinha ingressos para ver Sanson et Dalila, parei num quiosque e comprei um tacacá premiado com uma larvinha – o que achei ótimo, já que tinha uma desculpa para devolvê-lo, pois seu gosto era horrível. Quando voltei para o albergue encontrei um casal na sala, assistindo TV. Logo puxaram conversa e, trinta minutos depois, já parecia que nos conhecíamos há dias. A Carla e o Adriano me contaram que estavam na cidade para prestar um concurso de professores para trabalhar em postos avançados da Universidade Federal do Amazonas. Ela era bióloga e morava no interior do RJ e ele físico, no Paraná. Duas pessoas tão novas – 26 e 24 anos, respectivamente – e dispostas a abandonar tudo em prol do amor ao ensino. Mais tarde conheci o Rodrigo, um fisioterapeuta mineiro que também prestaria a prova.
Me sentia tão mais a vontade com eles do que com os hóspedes do hotel que eu estava. Conversamos sobre educação, mercado de trabalho, sonhos e expectativas e rimos por bobeira, observando como o Dirley – um dos responsáveis pelo albergue – sempre escutava músicas bregas, como lambada, Sula Miranda e afins. Com a Carla fui ao INPA, com o Adriano assisti uma apresentação de jazz, com o Rodrigo fui ao XIII Festival de Ópera de Manaus e à noite íamos todos juntos para o bar. Cada um deles parecia se encaixar de alguma maneira na programação que eu havia feito.
Ainda no albergue conheci a Claudia e a sua mãe, a Val, que estavam viajando a passeio. Fomos à praia da Lua e passamos o dia todo alternando entre mergulhos no rio e conversas à beira d’água. No lado em que estávamos só havia nós e mais três homens, que chegaram depois. Em determinado momento, um deles nos aconselhou a não ficarmos tão próximas a uma árvore submersa, pois no dia anterior haviam encontrado uma cobra nela. O assunto deu “pano pra manga” e em pouco tempo já conversávamos e riamos. Algumas horas depois chegou um casal de amigos desse rapaz e almoçamos todos juntos, observando o rio subir. Era impossível ficar cinco minutos ao lado deles sem dar uma gargalhada. A tarde passou ligeira entre risos e devaneios. Foi o dia mais divertido da viagem.


Na manhã seguinte conheci outra Carla, que havia chegado de Lisboa durante a madrugada. No café da manhã nos apresentamos e logo perguntei se ela queria ir para Presidente Figueiredo comigo, a Val e a Claudia. Ela adorou a ideia e, por volta das 10 horas, fomos para a rodoviária. Sentei ao seu lado no ônibus e reclamei de dor de garganta. Ela me disse que essa era uma região do corpo profundamente ligada a mudanças de identidade e de postura diante da vida e que, muito provavelmente, o que eu sentia era resultado desse processo. Verdade ou não, a Carla passou grande parte da viagem dando dicas de saúde e de remédios naturais. Ela estudava medicina alternativa, além de trabalhar como enfermeira e atriz.
No trajeto, vez por outra podíamos observar lagos e pequenos riachos cortando as árvores na beira da estrada. Passamos por um que parecia um oásis no meio da floresta e os nossos olhos se encheram de lágrimas ao contemplá-lo. Era tão bonito ver aquilo. De repente a Carla olhou pela janela e me perguntou se eu também estava emocionada. Aqui eu sinto como se uma grande mãe me abraçasse, ela me disse. Assenti com a cabeça e ficamos em um profundo silêncio.
Duas horas depois, quando chegamos ao município, paramos para comer um lanche na beira da rodovia e, em seguida, pegamos um mapa no Centro de Atendimento ao Turista (CAT) com a rota das cachoeiras. Quase ao mesmo tempo apontamos para a foto de uma gruta e decidimos que iríamos para lá. Procuramos informações sobre a sua localização, mas nada. O folder não explicava. Negociamos com um taxista e perguntamos como se chegava ao local, mas ele também não sabia. Desapontadas, resolvemos que iríamos à caverna mais próxima, a gruta Refúgio do Maroaga.
Descemos do carro e vimos uma estreita trilha entre a mata. Quando nos preparávamos para a caminhada um menino, que estava em uma espécie de ponto de ônibus na estrada, disse que não poderíamos descer sem um guia. Desconfiadíssimas de que ele queria nos enrolar, respondemos que o CAT tinha liberado a nossa entrada – o que era verdade. Ele chamou uma moça que morava na casa atrás do ponto – até então não tinha reparado na residência – e, trajando um colete da Secretaria do Turismo, ela tentou nos convencer sobre a importância de incentivar o programa de jovens talentos na região, aceitando o trabalho do guia-mirim. Ela transmitia confiança e, como cada uma gastaria apenas cinco reais, aceitamos.
A trilha era fechada e o caminho bem tortuoso. O terreno era íngreme e tínhamos que nos equilibrar em troncos e pedras, dando as mãos para não cair. Mais de uma vez meu pé atolou por completo na lama para depois ser lavado em pequenos filetes de água que cruzávamos. O barulho do vento nas folhas das árvores produzia um som assustador. Em um desses momentos, quando olhava ao redor tentando identificar o barulho que ouvia, o guia disse, tranquilamente, que naquela região existiam muitas onças. Como assim, onças? E ele só falava agora, que estávamos no coração da floresta? Que ótimo, pensei. Mas aí lembrei que muitas pessoas em Manaus haviam me dito que era raro encontrar animais selvagens, já que eles se escondiam com medo dos seres humanos. Esse pensamento me deixou mais calma.
O corpo sentia sinais de cansaço quando começamos a distinguir o som da cachoeira. Aceleramos os passos e vimos uma queda d’água, linda, caindo por entre uma fileira de grutas e cavernas. Eu e a Claudia atravessamos as pedras correndo, tirando a roupa no caminho. Não havia sensação melhor do que aquela pressão gelada nas costas. Ficamos ali algum tempo, mas o guia nos indicou outra trilha por entre as águas. Sem ele, nunca adivinharíamos o que estava por vir.
Andamos mais um pouco com os joelhos completamente submersos e, quando alcançamos novamente a terra, ficamos descalças, sentindo o solo úmido. Aquela mistura de argila e areia era uma massagem em nossos pés cansados. Mais troncos, pedras e cipós pelo caminho. Por pouco a Val quase caiu, nos dando um susto. Depois de meia hora, mais ou menos, começamos a ouvir o som que já nos era familiar. Afastamos as folhas da nossa frente e não acreditamos no que vimos. Era a Gruta da Judéia, a da imagem do folder que ninguém soubera nos informar. Paramos, atônitas, olhando a queda que formava uma poça amarelada, rodeada de areia. Acho que foi uma das cenas mais bonitas que vi na vida.
Novamente ficamos de biquíni. Mergulhávamos e pulávamos dando gargalhadas, nos perguntando se aquilo era um sonho. De repente a Claudia parou e, boiando na água, mirou os meus olhos.
– Isso é que é vida de verdade, não o que a gente vive lá em São Paulo.

– Você tem razão – respondi, pensativa, olhando o céu.