Enquanto me embrenho em um projeto sobre os cinco sentidos, tento recordar a menina que chorava e rabiscava as paredes da casa inteira em sinal de protesto, pela frustração que sentia em ver um livro e constatar que não sabia lê-lo.
domingo, 28 de novembro de 2010
Da transcri(a)ção do mundo
Enquanto me embrenho em um projeto sobre os cinco sentidos, tento recordar a menina que chorava e rabiscava as paredes da casa inteira em sinal de protesto, pela frustração que sentia em ver um livro e constatar que não sabia lê-lo.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Das escolhas
(Kevin Arnold, Anos Incríveis)
domingo, 17 de outubro de 2010
Espanador de tristezas
Observar o voo dos pássaros.
Fazer bolinhas de sabão.
Traçar uma rota para lugar nenhum.
Regar uma flor.
Escrever, escrever, escrever.
Ficar quieta e simplesmente ouvir.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Inventações
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Menina invisível
Eu não tenho cabelos vermelhos e o meu vestido não é amarelo. Eu sou só uma menina invisível, deitada na grama invisível que a moça que não sabia desenhar, não desenhou. Aquele é o menino que eu não lhe falei. Ele sempre está preso num único instante; o instante em que o moço que sabia desenhar, o desenhou.
O balão que subia as nuvens, com várias crianças chamando, teve de desviar o caminho, pois não fazia parte desse desenho. O avião que trazia uma faixa, com linda declaração de amor, teve de mudar a rota, pois neste céu azul é que não foi desenhado. O pombo-correio que veio voando de fora da imagem, bateu o bico na borda e caiu. Por isso, o menino está sempre só.
Se as crianças do balão não conseguiram. Se o avião também não conseguiu. Se nem o pombo-correio teve sucesso, como é que eu, uma menina invisível, feita de palavras, poderia chegar até ele? Foi o que passei dias e dias pensando. Então, numa de minhas viagens, ouvi dizer que uma imagem valia mais do que mil palavras. Não tive dúvidas. Abri a oficina invisível, acendi as luzes transparentes e comecei a construir este imenso abraço de palavras. De mil e duas palavras. Para, um dia, entregar a ele.
(Rita Apoena)
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Diferenças que atraem
Marcelino era um menino que enrubescia sem nenhum motivo. Por não precisar levar uma bronca ou passar vergonha para ficar com o rosto vermelho, todos os seus colegas o achavam muito diferente. Marcelino não entendia o motivo, mas, mesmo assim, resolveu se isolar dos outros para poder brincar em paz. Até que um belo dia, o garoto conhece Renê Rocha, um menino violinista que tinha algo parecido com ele: espirrava sem parar, mesmo sem estar resfriado.
É assim que começa a história de Marcelino Pedregulho, do ilustrador francês e colaborador de revistas como The New Yorker, Jean-Jacques Sempé, que recebeu o prêmio Altamente Recomendável da FNLIJ.
"Se eu quisesse que todo mundo ficasse triste, contaria que os dois amigos, presos às suas obrigações, não se reviram mais. De fato, é o que acontece na maioria das vezes. A gente reencontra um amigo, fica supercontente, faz planos.
E depois, a gente não se vê mais. Porque não temos tempo, porque moramos longe um do outro, porque temos um monte de trabalho. Por mil outros motivos.
Mas Marcelino e Renê se reviram."
(Trecho de Marcelino Pedregulho, de Jean-Jacques Sempé)
domingo, 19 de setembro de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Ideal de vida
Um nome para o que eu sou, importa muito pouco.
Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de "a protetora dos animais". Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
(...) No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Para ter um namorado
Para ter um namorado, é imprescindível que ele seja expert em fazer pedras quicarem repetidas vezes na superfície de lagos e domine a arte de bater palmas com o coração. Que seja viril: saiba trocar lâmpadas e pintar paredes, mas faz-se mister conhecer a época certa de podar manjericão – aquela planta que serve como tempero. Além disso, que não tenha vergonha de fazer careta em público e possua o dom de descobrir semelhanças entre transeuntes anônimos e grandes artistas da música popular brasileira.
Para ter um namorado, é importante que ele saiba de cor alguns poemas e encontre o equilíbrio exato de ficar levemente embriagado e se tornar a pessoa mais engraçada do mundo. Que ele não tolere injustiças e não aprove comentários irônicos sobre pessoas com pouca instrução, mas que discorra sobre diversos assuntos, desde a gestão de marcas no comércio eletrônico até o tom esverdeado da urina causado pela ingestão de aspargo. Que seja sofisticado e simples ao mesmo tempo – principalmente simples.
Para ter um namorado, é preciso que ele tenha vontade de te apresentar para os familiares e te deixe um pouco de lado para brincar com o priminho e ajudar a avó a subir as escadas. Que ele te ensine alguns passos de uma música qualquer e não se importe em dançar Sandy & Júnior com você.
Para ter um namorado, mas um namorado de verdade, é preciso que você olhe fundo nos olhos dele e descubra que podem até não ter a mesma profissão, morar no mesmo bairro ou ter outras tantas coisas em comum, mas que possuem o essencial: a vontade e a alegria de aceitarem-se como são e desejarem compartilharem a (in)finitude da vida juntos.
Assim, quem sabe, você comece a sonhar acordada ao notar que mesmo sem querer, mesmo sem perceber, você encontrou um bem-amado namorado.
domingo, 18 de julho de 2010
Sobre o amor
- Mas o que isso tem a ver com o amor?
(Peanuts, 1999)
Mais sobre Charlie Brown e o amor aqui.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Sobre homens e estrelas
Trecho de uma carta que recebi há alguns anos e faz alusão à Terra dos Homens, de Antoine de Saint-Exupéry.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Aventuras
Era uma vez um menino que queria ser explorador. Queria tanto, mas tanto, que passava horas deitado no chão de seu quarto, apenas contemplando os mapas dos livros de geografia da escola. Com caneta em punho ele riscava estados, demarcava territórios, criava roteiros e se punha a imaginar todas as maravilhas que encontraria em suas aventuras.
Bastava olhar um pouco mais demoradamente para a profusão de linhas e de nomes no papel para logo se ver trajando calça e blusa cáqui, chapéu de aba larga e cinto preto com um monte de penduricalhos na cintura. Slept! Slept! E o seu chicote estalava no ar contra chacais, enquanto ele corria para a entrada de uma caverna desconhecida. Escalava montanhas, atravessava cânions, enfrentava insetos venenosos e conhecia lulas-gigantes nas profundezas dos oceanos. Mas se era fácil sonhar, quão difícil seria realizar?
E assim ele começou a bolar mil e uma estratégias para não vacilar. Pensou em escrever um bilhete bonito, colocar uma mochila nas costas e dizer adeus pra nunca mais voltar. Logo depois teve uma ideia melhor: se matricular em uma escola que oferecesse treinamento de sobrevivência na selva para viver perigosamente, como sempre quis. E de ideia em ideia passou a tarde toda a divagar. Pensou e pensou até chegar à conclusão de que nenhuma dessas histórias colaria, a mãe choraria e ele jamais partiria. E só assim percebeu que viver dentro da imaginação é que era a maior das aventuras. Lá poderia ser quem quisesse, viajar para qualquer lugar e até conhecer terras além do mar, do céu e das estrelas, para todo o sempre.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
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Rita Apoena
terça-feira, 18 de maio de 2010
Em busca da muiteza
Para Maria da Graça, Paulo Mendes Campos.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
sábado, 8 de maio de 2010
Querido Helianto,
Ah! Como eu queria evadir-me com os pássaros, pegar carona na ponta de uma asa para atravessar nuvens espessas com um olhar no céu e outro na terra. E não me importar se às quatro da tarde não chegar ninguém. E abrir a janela repleta de alegria por saber que em algum planeta, localizado em algum lugar do universo, existe uma rosa, um carneiro e dois vulcões extintos, revolvidos cuidadosamente todas as manhãs por um pequenino que sorri milhões de guizos.