sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O último dia

Minha amiga,

Você diz que o melhor, talvez, seja ensurdecer em meio às pessoas que nos cercam. Cada uma falando apenas de si mesma, como eternos lábios que mexem apenas os músculos num exercício estafante de fazer-se dizer “Estou aqui, preste atenção em mim!”.
Num corre-corre diário regado a sons de buzinas, trânsito, metrô lotado e notícias do planalto nas páginas dos jornais, você quer apenas um minuto de paz. Um minuto sentada na grama, acompanhada de papel e caneta ao som de Corinne Bailey. E sonha em percorrer os campos numa tarde primaveril, pedalando na bicicleta.
Eu te digo: “Pensa que é só mais hoje, segunda você estará em outro mundo, com novas possibilidades”, mas você responde melancólica: “Aí é que tá! É só hoje, eu não sei o que vem pela frente”.
As reticências sempre permearam nossas vidas e daqui pra frente não será diferente. Talvez o melhor seja simplesmente “não saber” e deixar-se conduzir por veredas nunca antes percorridas.
Não tema o desconhecido. Como diz sua canção preferida “Você se encontrará em algum lugar, de alguma forma”.






quinta-feira, 27 de setembro de 2007

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Rumos

As duas tranças presas no alto da nuca balançavam de um lado para o outro a cada pulinho que dava na rua. Andava animada em direção ao ponto de ônibus. Deu mais alguns passos e parou em frente à estaca azul de madeira. Sentiu a tia soltar suavemente os dedos entrelaçados a sua mão.
Esperou. Esperou. Esperou. Mas todos os ônibus que passavam a tia dizia que não servia. Até que não agüentou mais e perguntou:
- Como você sabe que esse ônibus não serve, tia?
- É porque ele não passa onde queremos ir.
- E como você sabe que temos que ficar nesse ponto e não no do outro lado da rua?
A tia gargalhou e respondeu:
- Oras, se você quer ir naquele sentido – e apontou para o lado direito – deve ficar no outro ponto. Se quiser ir pra esse sentido – apontou para à esquerda – tem que ficar neste ponto.
- Mas como eu sei a direção do lugar que quero ir?
- Ué, você precisa saber o caminho – respondeu a tia concluindo o assunto.
A menina não entendeu muito bem, mas desistiu de continuar perguntando. Mal ela sabia que passaria a vida toda tentando encontrar a direção certa do seu caminho.

domingo, 23 de setembro de 2007

Mensagem ao semeador

Semeador, despertaste aos clarões da aurora e começaste a semear...
A dura lavra exigia suor e, dia sobre dia, arroteaste o solo, calejando as mãos, entre o orvalho da manhã e a luz das estrelas.
Diante do sacrifício, os mais amados largaram-te a convivência, sequiosos de reconforto...
Mas quanto te viste a sós, sem ninguém que te quisesse as palavras, a natureza conversou contigo, em nome do Céu, e escutaste, surpreendido, as orações da semente, no instante de morrer abandonada para ser fiel à vida; ouviste as confidências das roseiras, escravizadas na gleba, cujas flores brilham nos salões, sem que lhes seja dado outro direito que não aquele de respirar, entre rudes espinhos.
Recolheste a história do trigo que te contou, ainda nos cachos de ouro, como seria triturado nos dentes agudos de implacáveis moinhos, a fim de servir na casa dos homens.
E velhas árvores lascadas e sofredoras te fizeram sentir que Deus lhes havia ensinado, em silêncio, a proteger carinhosamente, as próprias mãos criminosas que lhes decepam os ramos...
Consolado e feliz, trabalhaste, semeador!
Um dia, porém, o campo surgiu engalanado de perfume e beleza e apareceram aqueles que te exigiram a colheita para a festa do mundo...
Choraste na separação das plantas queridas, entretanto, ninguém te viu as lágrimas escondidas entre as rugas do rosto.
Eras sozinho, perante as multidões que te disputavam os frutos e por não haver adestrado verbo primoroso de modo a defender-se, diante das assembléias, e porque a tua presença simples não oferecesse qualquer perspectiva de encanto social.
Os raros amigos de tua causa julgaram prudentes silenciar, envergonhados do rigor de tuas ásperas disciplinas, e da pobreza de tua veste, mas Deus te impeliu à renovação e, conquanto despojado de teus bens mais humildes, procuraste outros climas e outras leiras, onde as tuas mãos quebrantadas e doloridas continuaram a semear...
Semeador dos terrenos do espírito, que te encaneceste na lavoura da luz, qual acontece ao cultivador paciente do solo, não te aflijas, nem desanimes.
Se tempestades sempre novas te vergastam a alma, continua semeando... E, se banimentos e solidão devem constituir a herança transitória do teu destino, recorda o Divino Semador que, embora piedoso e justo, preferiu a cruz por amor à verdade e prossegue semeando, mesmo assim, na certeza de que Deus te basta, porque tudo passa no mundo, menos Deus.

Meimei

sábado, 22 de setembro de 2007

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Teatro Itália comemora um ano dedicado à dança

Na próxima segunda-feira, dia 24, às 20h, o Teatro Itália, TD – Teatro de Dança comemora um ano voltado exclusivamente as manifestações artísticas e corporais.
A noite de aniversário conta com uma programação especial, com quatro coreografias diferentes: “Grassar”, de Umberto da Silva, de SP, “... Still We Sit”, coreografia de Raymundo Costa e Maxine Steinman com a Distrito Cia. de Dança, de Ribeirão Preto, com direção artística de Patty Brown; “Kafka in off”, de Sandro Borelli Cia. de Dança, de SP, com direção artística de Sandro Borelli e por fim, Grand Pas de Deux “O Corsário” com Andréa Thomioka e Israel Alves, bailarinos cedidos pelo Balé da Cidade de São Paulo.


Teatro Itália
Av. Ipiranga, 344 – Subsolo Edifício Itália – SP
E-mail: info@teatrodedança@apaa.org.br
Tel: 11 2189-2555

Grátis – retirada de senhas com 1 hora de antecedência

domingo, 16 de setembro de 2007

Diversidade literária é tema de encontro

“Meu coração pode mover o mundo, porque é o mesmo coração dos congos, bantos e outros desgraçados”. Os versos de Oswaldo de Camargo foram declamados ontem (15), pelo próprio autor, no evento Negras Palavras - I Encontro de Gerações, no Museu Afro Brasil. Com participação do poeta, ensaísta, escritor e pesquisador Edimilson de Almeida Pereira e do Consultor de Literatura do Museu Afro Brasil, Oswaldo de Camargo, o encontro faz parte de uma série de debates destinada a tratar temas da construção imaginária do negro no país.
Com mediação de Neide de A. Almeida, os convidados tiveram como mote principal Os Negros (em) poemas, discutiram a existência da chamada literatura negra ou afro brasileira. De acordo com Camargo, o que caracteriza a poesia negra é, em primeiro momento, o autor se reconhecer como negro, “debruçar-se sobre um texto” e verificar se tem um “conteúdo negro ou negreiro”. Já Pereira atenta para uma questão perigosa em relação à temática. Segundo o autor, um escritor não precisa versar necessariamente sobre a realidade dos negros apenas por ser afro-descendente, “a literatura negra é viável entre tantas outras”, diz.
A implementação da Lei 10.639, que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileiras no nível fundamental e médio da escola também causou polêmica no debate. Quando as questões foram abertas para a platéia, ouve uma enxurrada de perguntas abordando o tema. Para muitos professores, tornou-se um desafio classificar e trabalhar em sala de aula os escritores negros. De acordo com Camargo, a questão étnica não é fator decisivo e único para definir os escritores, mas o conteúdo de seus versos. Edimilson ainda aponta características a serem observadas na classificação da literatura negra. “Quando o autor se assume como negro, assume falar pela coletividade e, além da estética, seu texto tem um estudo político é um instrumento de ação social”, afirma.
No Encontro foi ressaltada a necessidade de incentivar a leitura nos jovens e crianças e enxergar a literatura como centro de transformação social do individuo, independente de sua cor. Os livros são portas para o conhecimento, através deles pode-se visitar lugares longínquos, voar nas asas da fantasia, pesquisar o mundo e o saber científico. Debates como o proposto pelo Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil servem como canal de estudo e reflexão acerca das nossas raízes culturais e a necessidade de modificar o nosso cotidiano por meio da informação.


Para saber mais:
www.museuafrobrasil.com.br

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Imagine as possibilidades

O Sol nasceu dissipando as trevas da noite. Temos um novo dia pela frente. Um presente. Uma nova oportunidade para recomeçar e lutar pelo que acreditamos.



O que você vai fazer com o seu dia?

terça-feira, 11 de setembro de 2007

As regras do jogo

Você deve:

ser bom filho
estudar
trabalhar
se empenhar na faculdade
tirar boas notas
arrumar estágio na área
ser bem sucedido
casar
ter filhos
envelhecer
não questionar nada
.
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.
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Onde mudam as regras?

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Someday we'll know

Does anybody know the way to Atlantis?
Or what the wind says when she cries?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A vida paralizada

Aí eu peguei a coberta do Rufus e sai correndo. Ele, destrambelhado, saiu a toda atrás de mim. Meus pés corriam velozmente até tropeçar numa pedra solta no meio do quintal. Senti o impacto do dedo dobrando quando bateu em cheio na superfície cinza. Sai cambaleando, brecada somente pela parede em que quase estatelei o rosto. Foi engraçado.
Entrei pulando num pé só em casa e, mais gargalhando que chorando, só conseguia repetir “Aí, tá doendo”, “tá doendo”. Todos riram com meu riso.
Achei que fosse bobagem, sentia um ligeiro formigamento no dedo mas, minutos depois, a região da pancada ficou roxa, inchada e as dores surgiram mais fortes.
“Você tem um osso bom, hein... Não chegou a quebrar, mas vai ficar com esse dedo imobilizado por cinco dias. E vê se não apronta mais com o cachorro pelo quintal”, disse o médico risonho, após analisar cuidadosamente o raio-X.
Agora, reviro o guarda-roupa e não encontro um sapato que entre no meu pé enfaixado. Não consigo andar muito, mesmo mancando, sem sentir dor. Tenho que ficar parada, imobilizada diante da vida que corre.
Talvez só assim para eu frear um pouco, observar ao meu redor e olhar mais para dentro de mim. Talvez só assim eu acerte a direção dos pés.