domingo, 31 de maio de 2009

Descobertas no longe

Apenas no segundo dia em que estava no hotel conheci a Christine. Até então, tinha feito todos os passeios somente com o guia e realizado grande parte das refeições sozinha. Estava na condição de jornalista e precisava me preocupar em obter algumas informações mais detalhadas. Além disso, não era a primeira vez que viajava sem companhia e sabia que mais cedo ou mais tarde conheceria pessoas legais. Não me sentia solitária, pelo contrário, me fazia bem ficar um pouco longe de tudo e de todos, apenas com as minhas próprias divagações.
Neste dia, algumas horas após o almoço, entrei num barco rumo a um assentamento indígena no alto do Rio Negro e procurei um lugar próximo à sua beira. Notei uma moça alta e loira sentada ao meu lado, quieta, observando a correnteza. Era a mesma que pela manhã eu havia trocado algumas palavras sobre a Chiquinha, uma macaquinha que insistia em pular de uma cadeira a outra enquanto líamos nas espreguiçadeiras. Logo começamos a conversar e descobri que ela também viajava sozinha, o que nos fez notar algumas afinidades. De nacionalidade alemã, fazia apenas dois anos que ela estava no Brasil, mas falava muito bem o português, com apenas alguns indícios de sotaque estrangeiro. Trabalhava em uma multinacional e em julho partiria para uma sede da empresa no Panamá. Depois desse momento nos tornamos companheiras de viagem, tomando café, almoçando e jantando juntas e conversando sobre os mais diversos assuntos. Ela me contou alguns costumes das famílias alemãs e eu a ensinei algumas palavras em português. Christine falava sobre o papel de um verdadeiro líder num cenário de crise mundial e eu tentava acompanhar o assunto, com os meus parcos conhecimentos sobre administração e liderança. Depois, era a minha vez de explicar a ela porque precisava entrevistar o gerente de operações do hotel, motivo do meu atraso para o jantar.
Me admirava com a quantidade de cerveja que ela conseguia beber em qualquer hora do dia – mesmo de manhã, como ela me contou ser hábito na Alemanha – e sentia o meu estômago embrulhar quando a via comer salsicha no café. Quem a olhasse veria uma mulher bonita, independente, inteligente e bem resolvida, dessas que não dá para precisar a idade. Ela poderia ter 27 ou 37 anos, não ousei perguntar.
No nosso último dia de hospedagem, bem cedinho, sentadas à mesa do restaurante, confessamos alguns medos e anseios. Era estranho ver como uma pessoa aparentemente tão segura de si estremecia ao imaginar como seria recepcionada em outro lugar. Éramos tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas. A fitei com um profundo respeito e, naquele momento, percebi que somente quando tiramos a couraça que nos protege conseguimos enxergar verdadeiramente o próximo como um igual.
Fiz o check-in mais cedo do que deveria e a acompanhei até o aeroporto, onde almoçamos juntas pela última vez. A esperei embarcar no avião e depois me dirigi à saída, dando sinal para o primeiro táxi que vi, rumo à segunda parte da viagem.

sábado, 30 de maio de 2009

Anotações para a vida

– A gente vai aí? – perguntei, olhando hesitante a canoa minúscula a minha frente.
O guia sorriu e disse que sim, me entregando um colete salva-vidas. Todo orgulhoso, contou que havia sido ideia dele fazer o passeio noturno sem um barco motorizado. Respirei fundo e entrei na canoa, sentindo-a balançar de um lado a outro. Ele empurrou o barquinho para a água e em seguida deu um pulo rápido para dentro dela. Nos primeiros cinco ou dez minutos – perdi completamente a noção da hora – fiquei paralisada de medo. Na minha mente oscilavam cenas de um ataque de jacaré, de um acidente com a canoa e de duas pessoas perdidas em um dos braços do Rio Negro. Apesar do movimento incessante do remo nas águas, sentia como se estivéssemos navegando em círculos no mesmo lugar. Quando finalmente ousei olhar para trás, vi o hotel distante, uma pequenina luz no meio da floresta amazônica. Ao notar o meu estremecimento, o guia deu uma risadinha e pediu para eu colocar a mão na água. Mergulhar uma parte do meu corpo no desconhecido não era uma ideia nada agradável. E se uma piranha abocanhasse a minha mão? Ok, era um delírio, não havia peixes dessa espécie naquela parte do rio, mas eu não conseguia controlar os meus pensamentos macabros. Depois de alguns segundos criei coragem... um, dois, três e pronto, toquei com as pontas dos dedos a superfície escura.
– É quente – respondi.
A temperatura elevada da água foi uma surpresa e, inesperadamente, serviu para eu acordar de alguma espécie de torpor. Aos poucos os meus músculos foram relaxando e finalmente pude notar os pequenos detalhes que me cercavam. Fechei os olhos e comecei a distinguir cada som de anfíbios, insetos e animais que ouvia. A ópera noturna, a imensidão do rio, a imponência das árvores e a incrível constatação de estar em um lugar sem rede elétrica, edifícios e poluição foram me dando a sensação de estar em outra existência.
– É incrível – balbuciei, assombrada com a riqueza da vida.
– Você sabe onde fica o Cruzeiro do Sul? – questionou o guia. Eu disse que não. Então, de repente, ele parou de remar e apontou para o firmamento.
– Está vendo aquelas estrelas ali? – perguntou, traçando um caminho no espaço. – Aquela é a constelação Cruzeiro do Sul.
Ele continuou falando, mas eu não conseguia mais prestar atenção. Era muito surreal estar com um desconhecido num sábado à noite, a quilômetros de casa, percorrendo o Rio Negro e me embrenhando pelas matas da Amazônia. Olhei ao redor tentando gravar na memória a floresta que margeava as águas e cada estrela que cintilava no céu. Me sentia tão pequena frente à grandiosidade da natureza, apenas um minúsculo ponto no universo. E, no entanto, eu estava ali, fazia parte daquilo. Ao mesmo tempo em que constatava a minha pequenez me sentia acolhida, como se uma mão invisível me balançasse no colo.
Não sei precisar quantas horas ou minutos ainda ficamos navegando. Conversamos sobre a vida, entramos em um igapó, vimos um jacaré beeem de longe e empurramos a canoa entre as árvores. Quando avistei o hotel respirei fundo novamente. Eu não queria mais voltar.

sábado, 23 de maio de 2009

Vida de menina

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"Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança o menino me dá a mão
Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão..."


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É que eu aprendi a ser menina para a vida toda.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

26ª Feira do Livro Colégio Miguel de Cervantes

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Imagine Moacyr Scliar, Emílio Calderón, André Neves, Andrea Ferrari, Lucia Hiratsuka, Milton Hatoum, Marina Colasanti, Ana Maria Machado, Índigo, Tatiana Belinky e muitos outros nomes da literatura infantil e juvenil juntos em único evento. Vai ser o máximo.


26ª Feira do Livro Colégio Miguel de Cervantes
Dia 22, das 9h às 14h, e 23, das 9h às 17h
Av. Jorge João Saad, 905 – Morumbi
Informações: (11) 3779-1800 - www.cmc.com.br

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Já era tempo!




Tiana é a primeira princesa negra lançada pela Disney na animação The princess and the frog (A princesa e o sapo), com estreia prevista para novembro, nos Estados Unidos.

sexta-feira, 8 de maio de 2009


Uma boa peça com excelentes atrizes.
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Com Amanda Lyra e Maria Tuca Fanchin e
direção de Silvana Garcia, hoje foi a última apresentação do espetáculo no SESC Consolação.



quinta-feira, 7 de maio de 2009

Brincadeira na calçada

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O farol abriu e Daniel correu para a calçada. Sentou-se no meio-fio e ali ficou a olhar o movimento da rua. De repente, as balas em sua mão criaram vida e começaram a conversar entre si:
- Capitão temos um problema! O motor está parando, estamos tendo dificuldades para manter a rota.
- Pedro, tente entrar em contato com a base, eu vou verificar o que está acontecendo.
- Capitão corre, corre! O motor está entrando em pane. Teremos que forçar pouso.
- Aí meu Deus! Teremos que forçar pouso. Todos em seus lugares.
- Capitão, a base não responde, estamos tendo interferência.
- Continue tentando Pedro.
Todos assustados olharam entre si. Ouviram um estrondo forte vindo do motor e sentiram o impacto dele aterrizando com força num solo esburacado. As luzes da nave começaram a piscar e de repente o motor parou.
- Capitão, onde será que estamos? Que planeta é esse, ele não aparecia nos estudos, surgiu do nada!
- Vamos tentar manter a calma, homens! Pedro e Cláudio continuem tentando manter contato com a base. Joaquim, Alan e Paulo venham comigo, vamos lá fora verificar que tipo de planeta é esse.
O capitão e os outros vestiram as suas roupas especiais de astronautas e saíram apressados para fora da nave. Quando pisaram no solo desconhecido não acreditaram no que viram: havia um riacho de águas cristalinas em que pequenos seres de asas e orelhas pontiagudas brincavam. Mais adiante havia uma espécie de jardim com árvores de galhos enormes e folhas azuis. Casinhas feitas de algo parecido com o algodão, brancas, fofas e arredondadas completavam a visão.
O capitão e os seus homens olharam aterrorizados quando um dos seres de asas se aproximou e disse em uma língua desconhecida, mas que eles entenderam sem saber por quê.
- Olá visitantes! Nós vimos que vocês iam cair e resolvemos nos fazer visíveis para vocês aterrizarem. Sejam bem-vindos!
Quando o capitão, surpreso, ia responder, Daniel ouviu um grito ao seu lado:
- Ê menino preguiçoso! Para de molecagem e vai trabalhar! Não tá vendo que o farol abriu? Vá logo vender essas balas!
E então, Daniel levantou-se e voltou correndo para o seu mundo, que não tinha astronautas, naves, nem planetas desconhecidos.

domingo, 3 de maio de 2009

Uma viagem pelo universo do faz de conta

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Na exposição “Era uma Vez... Arte Conta Histórias do Mundo”, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (CCBB-SP), os mais famosos contos de fadas podem ser revisitados pelas mais de 100 obras – entre ilustrações, pinturas, esculturas e objetos – produzidos por diversos artistas brasileiros.
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Com curadoriade Katia Canton, a iniciativa homenageia o francês Charles Perrault, o dinamarquês Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm, da Alemanha, e apresenta contos populares, africanos, árabes, japoneses, italianos e russos.
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Além de percorrer todo o prédio do CCBB num passeio mágico, os visitantes poderão dar uma paradinha no Bosque da Leitura, um ambiente com almofadas e pufs para ler e folhear livros pendurados em árvores de madeira e, ainda, conferir a contação de histórias que acontece todos os sábados, às 16h, a partir do universo da mostra.
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Confira a programação:
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9 de maio - O Soldadinho de Chumbo e outros Brinquedos de Andersen, com Giba Pedroza
16 de maio - João e Maria, com Kiara Terra
23 de maio - Entre Cantos e Encantos, com Giba Pedroza
30 de maio - A Bela Adormecida do Bosque, com Kiara Terra
06 de junho - Contos para Rir e Pensar, com Giba Pedroza
13 de junho - Conversa de Madame, com Kiara Terra
20 de junho - Chocolate Quente na Neve e Um Conto de Grimm, com Giba Pedroza