sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Metáforas sobre o partir*


Era um típico domingo de verão. Eu conversava com alguns amigos em um sítio quando reparei o meu namorado (na época) de cabeça baixa, sentado no muro do jardim. Caminhei em sua direção e perguntei se estava tudo bem. “Estou cortando a folha para ajudar as formigas”, ele respondeu. Olhei para o chão e vi uma fileira de insetos carregando pequenos pedaços verdes. Eu sorri e sentei ao seu lado, segurando a sua mão. “Hoje cedo me lembrei muito da minha irmã... Foi como se ela estivesse ao meu lado”,
continuou reticente. Já tinha passado alguns anos desde a sua morte, mas naquele dia ele se lembrou dela como se tivesse transcorrido apenas alguns meses.

Certa vez, em uma seleção para ser contadora de histórias, assisti uma palestra sobre o processo da morte – assunto tão temido por tantos. Descobri que o período e o estado de luto são naturais até dois anos e, inclusive, obtive informações sobre grupos de apoio para quem passa por esse processo. Quatro meses depois, quando comecei a ter acesso ao armário de livros dos contadores, conheci três obras encantadoras que abordam o assunto.

Nunca concordei com os “politicamente corretos”, que acreditam que as crianças devem ser poupadas de assuntos considerados tristes. Por isso, creio que os livros abaixo mostram como um tema denso pode ser abordado de maneira poética e sensível.


A Velhinha que dava nome às coisas, escrito por Cynthia Rylant e ilustrado por Kathryn Brown, conta a história de uma velhinha que não tinha nenhum amigo, pois todos já tinham morrido. Por isso, ela começou a dar nome às coisas que durariam mais que ela: a sua casa, o seu carro e a sua poltrona. Até o dia em que um cachorrinho aparece no seu portão e a faz superar o medo de sobreviver a ele.




Em Menina Nina, Ziraldo utiliza os seus traços e as suas palavras para consolar Nina (a sua primeira neta), após a perda da Vó Vivi (mulher do próprio autor). Para isso, mostra duas razões muito especiais para a menina não chorar.






Vó Nana, obra de Margaret Wild ilustrada por Ron Brooks, mostra o relacionamento de Vó Nana e Neta, que moram juntas há muito tempo e compartilham tudo, inclusive as tarefas de casa. Até o dia em que Nana não aparece para tomar o café da manhã e, calmamente, trata de colocar os seus negócios em ordem. Depois, leva Nana para o seu último passeio, em que as duas apreciam toda a natureza ao redor e se despedem da melhor maneira que conhecem.




* Post escrito após sonhar pela terceira vez seguida com a minha prima. No dia 21 de janeiro, se estivesse viva, ela completaria 19 anos.

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas T. disse...

um dos trechos mais bonitos (nem por isso menos doloroso) na minha opinião que fala sobre a morte é de Antonio Lobo Antunes, no seu último diálogo com a mulher já no leito de morte:

"...Ela me perguntou:

- Que horas são?

E eu disse:

- Dez para as seis.

E a resposta dela foi a coisa mais extraordinária que ouvi até hoje:

‘Que hora tão improvável’.

E morreu.”

Camila Fortunato disse...

Em qualquer idade, lidar com a morte é muito difícil...
Eu gosto muito de "Corda bamba" da Lygia Bojunga.
Beijo

carina gomes disse...

Difícil aceitar, entender e se adaptar com a perda de alguém que amamos muito, é um vazio inexplicável.
Belíssimo o seu post.
Bjs, querida!