quinta-feira, 5 de julho de 2007

Santos Dumont

Neomisia Silvestre é jornalista. Gosta de Carmem Miranda, Wandula, dança indiana e tem fascinação por Santos Dumont. Ela escreveu o texto abaixo para um concurso de redação nacional, em comemoração ao Centenário do vôo do 14 BIS. Ficou entre 50 selecionados e teve o texto publicado em um livro.

Criou asas e voou...
Quando lhe deram a notícia, mal pôde acreditar.
Era sua primeira
viagem de avião.
"Atenção senhores passageiros com destino à...". O vôo estava marcado para manhã, voaria na luz do dia de sol. No aeroporto: pessoas, destinos, horários, check in, check out. A janela era vista só minha. Uma pista livre à frente. "Coloquem o cinto de segurança...". O coração acelerava com o girar dos motores cada vez mais rápido, cada vez mais alto. Sob o nariz tudo foi se tornando pequeno, limitado, acanhado. "Não é permitido o uso de...". Não conseguia imaginar como voar era possível. Uma leve turbulência. Um medo. Uma voz: "Desejamos a todos uma boa viagem".
O céu era doce feito algodão
Azul tinha a imensidão do mar
Nuvens faziam sombra no baixo
Casas, quadras e estradas
viraram num dia, um só
Pequenos rios e campos
À essa altura o vento
corria forte nas asas
hélice gira, girassol
fuselagem, rodas
leme, direção
aeroplano
aviador
vento
pouso
As horas, junto ao avião, voaram.
Graças àquele que criou asas e voou.
Não era anjo, nem santo, apenas
Dumont.
No 20 de julho de 1873, na fazenda Cabangú, em Minas Gerais, nascia Alberto Santos Dumont, filho do engenheiro Henrique e Francisca de Paula Dumont. Na infância, já demonstrava certo interesse pela inventividade e tinha como referência as leituras do ficcionista Júlio Verne. Dumont já se encantava com o subir dos balões de São João.
Aos 18 anos, emancipação concedida. Deu início aos estudos em física, química, mecânica e eletricidade, em Paris. Acreditava seu pai que o futuro da humanidade estaria na mecânica. Volta da capital francesa trazendo o primeiro automóvel para o Brasil, um Peugeot Cupê, em 1892.
Como uma grande bola de sabão, o seu primeiro balão, o menor, o mais lindo e o único que teve um nome: "Brasil", com 6 metros de diâmetro e 113m³ de profundidade. O balão fez Dumont navegar pelo ar.
Sua vida de inventor estava marcada pelo experimento com o triciclo a petróleo, no qual, posteriormente, o motor a gasolina seria utilizado nos balões que dominariam os ares. O balão n° 1 foi construído: hélice, bobinas, motor de duplo cilindro, escapamento, carburador... Dumont flutuava. Sofreu alguns acidentes, é verdade, mas a inquietação e a vontade por novos dirigíveis o fizeram seguir com o n° 2, o n° 3, o n° 4, o n° 5 e o n° 6 que conquistou o prêmio Deutsch, em 1901. Foi ele, a bordo do seu balão n° 6, o primeiro a contornar a Torre Eiffel e a comprovar a dirigibilidade para uma multidão que acompanhava a trajetória.
Aos 32 anos, faz o balão n° 7 e devido ao acidente com o dirigível n° 5, Dumont não constrói o n° 8, mas continua criando. Dentre as várias experiências em Bagatelle, um aeroplano suspenso pelo balão n° 14 foi batizado, pelas pessoas que acompanhavam o feito, de 14 bis. A invenção, com base no vôo do pato Canard, em que a direção é dada pela cabeça, o primogênito dos aviões voou 60 metros e subiu 2 de altura, em 23 de outubro de 1906.
Dumont foi das asas à imaginação. A ele é atribuído a invenção do relógio de pulso: precisava ver as horas ao pilotar. Do chuveiro com misturador de água quente e fria ao terno risca de giz, também. A elegância de seu 1,53m era fundamental: longas golas, chapéu e luvas completavam o figurino. Além da casa por ele projetada, a "Encatada", onde vivia em Petrópolis.
Não se casou, mas uma senhorita marcaria para sempre sua história. Sucessivamente, ele continuou a fazer os dirigíveis até chegar ao n° 20: "Demoiselle". O modelo atual do avião, até então desconhecido, foi o marco da aeronáutica passando a ser copiado e ganhando popularidade em todo o mundo.
Aos 59 anos, suicida-se no hotel La Grand Plage Guarujá, em São Paulo. O personagem histórico, dos 25 aos 35 anos, resolve o desejo de voar do homem. Santos Dumont acompanhou uma evolução em termos de tecnologia e história. O que ele viu.
O que nós veremos?