quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Outro lugar

Conversava com os amigos no alto da rampa. Mochila nas costas, jeans surrado, moleton azul anil. Os cabelos soltos balançavam suavemente ao vento, negros como a noite. A noite. Rápido veio a lembrança de como se conheceram: enquanto ela observava jovens dançando num agito frenético, parada numa esquina esperando a bebedeira da amiga passar, os olhos pousaram sobre ele. A hora ia alta, o relógio marcava duas da madrugada. Ele usava óculos, tinha os cabelos em desalinho e trajava uma camiseta com os dizeres "Libertem a Palestina". Os olhares se encontraram. Ela desviou, ficou sem graça, mas, minutos depois, voltou o olhar pra ele. Novamente o encontro dos olhos. Desta vez ficou vermelha e tratou de olhar para outro lugar. Mal percebeu quando ele se aproximou e iniciaram a conversa. Ele era diferente: cara de intelectual, voz grossa, gestos simples. Falava da vida com brilho nos olhos. Perguntou coisas que nunca ninguém havia ousado, assim, de cara. Questionava sobre perspectiva quando o rubro dos lábios os uniu. Ela se encantou, mas sabia que ele precisava partir. Os pés se agitavam para descobrir novos horizontes... Novos corações. Ela entendia, aprendera a deixar as coisas irem.
Meses depois, lá estava ela olhando para o alto da rampa. Pernas tremendo, voz embargada pela emoção, mas os olhos... Esses já não eram mais os mesmos.

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