domingo, 21 de junho de 2009
sexta-feira, 19 de junho de 2009
A mais nova piada nacional
Enquanto isso, mensagens indignadas e com um humor escrachado circulam na Internet, como a que recebi abaixo.

... Seria cômico, se não fosse trágico.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
domingo, 14 de junho de 2009
Uma rosa islandesa
sábado, 13 de junho de 2009
Sobre pontes e muros

quinta-feira, 11 de junho de 2009
quarta-feira, 10 de junho de 2009
A verdade aprisionada
domingo, 7 de junho de 2009
Uma viagem sem fim
Assim que cheguei à capital do Amazonas, sozinha, sabia que iria passar por situações inusitadas, mas não contava que a forma como me sentiria em relação a elas é que seria o mais importante. Quando adentrei a mata e percorri o rio numa canoa era como se eu estivesse em um santuário, sentindo a vida pulsar, latente, nas árvores, no murmúrio do vento nas folhas, no canto dos pássaros, na beleza dos peixes. A minha volta outro universo existia, desencadeando dentro de mim inúmeras sensações até então desconhecidas. Eu sentia, mas não compreendia. Apenas agora, um mês depois que retornei, consigo escrever sobre algumas coisas que vivi. A impressão que tenho é que as lembranças aqui publicadas não se apagarão com o tempo.
Quando eu parti não deixei para trás apenas a paisagem amazônica, mas um punhado de pessoas, histórias, sonhos e inquietações. Um pedaço da vida. O verde da mata, o branco da nuvem, o rosa do boto, o cinza da chuva e o púrpura do entardecer emolduravam rostos anônimos, pequenas cintilações de almas no ignoto. Lembro do Seu Maurício, um ribeirinho de 63 anos que trabalhou a vida todo como seringueiro e já no limite das forças viu toda a sua plantação de couve ser inundada pela chuva. “Antes dava 700 por semana, agora nem sete centavos”, me contou. Apesar da tragédia, ele não tinha o semblante triste; nutria uma profunda fé na vida e mantinha um estranho brilho nos olhos.
Também me recordo de um homem com uma pose arrogante e soberba, mas que soltou altas gargalhadas quando entrou comigo numa brincadeira de roda-roda com as crianças indígenas, as segurando pelos braços e girando os seus corpinhos para o alto.
Cada pessoa viaja por um motivo diferente. Conheço verdadeiros mochileiros que cruzam o país ao melhor estilo beatnik, pegando carona com caminhoneiros e dividindo a comida com estranhos pelo simples prazer de conhecer realidades distintas e de se aventurar pelo desconhecido. É tentador estar em um lugar e não dar satisfação a ninguém, ser apenas mais um rosto na multidão e vislumbrar outras formas de existir. Apesar dessa sede de culturas e de vivências, sempre acreditei que a maioria dos que se arriscam pela estrada o fazem porque estão à cata de algo maior, talvez em busca de si mesmos, num eterno ir e vir. É engraçado como passamos o tempo todo em busca de um significado e, no fim das contas, só o encontramos uns nos outros. Quando cruzamos com pessoas tão diferentes – como jovens professores que largariam tudo para lecionar em um lugar esquecido pelo País, ribeirinhos que vivem no limite da pobreza e que possuem uma sabedoria que não se aprende em nenhuma universidade do mundo, gays que ousam assumir a sua sexualidade em uma sociedade repleta de preconceitos, guias que conhecem a floresta como a palma de suas mãos, mãe e filha que passam apenas dois meses por ano juntas e uma empresária linda, inteligente e solitária – e conseguimos enxergar que podemos ser de cores, raças, credos e regiões distintas, mas no fim das contas somos todos iguais. Vivemos em um mundo de estranhos apenas esperando que alguém nos estenda a mão e nos mostre que não estamos sozinhos nessa incrível jornada que é viver.




sexta-feira, 5 de junho de 2009
Entre dois mundos
Me sentia tão mais a vontade com eles do que com os hóspedes do hotel que eu estava. Conversamos sobre educação, mercado de trabalho, sonhos e expectativas e rimos por bobeira, observando como o Dirley – um dos responsáveis pelo albergue – sempre escutava músicas bregas, como lambada, Sula Miranda e afins. Com a Carla fui ao INPA, com o Adriano assisti uma apresentação de jazz, com o Rodrigo fui ao XIII Festival de Ópera de Manaus e à noite íamos todos juntos para o bar. Cada um deles parecia se encaixar de alguma maneira na programação que eu havia feito.
Ainda no albergue conheci a Claudia e a sua mãe, a Val, que estavam viajando a passeio. Fomos à praia da Lua e passamos o dia todo alternando entre mergulhos no rio e conversas à beira d’água. No lado em que estávamos só havia nós e mais três homens, que chegaram depois. Em determinado momento, um deles nos aconselhou a não ficarmos tão próximas a uma árvore submersa, pois no dia anterior haviam encontrado uma cobra nela. O assunto deu “pano pra manga” e em pouco tempo já conversávamos e riamos. Algumas horas depois chegou um casal de amigos desse rapaz e almoçamos todos juntos, observando o rio subir. Era impossível ficar cinco minutos ao lado deles sem dar uma gargalhada. A tarde passou ligeira entre risos e devaneios. Foi o dia mais divertido da viagem.
Na manhã seguinte conheci outra Carla, que havia chegado de Lisboa durante a madrugada. No café da manhã nos apresentamos e logo perguntei se ela queria ir para Presidente Figueiredo comigo, a Val e a Claudia. Ela adorou a ideia e, por volta das 10 horas, fomos para a rodoviária. Sentei ao seu lado no ônibus e reclamei de dor de garganta. Ela me disse que essa era uma região do corpo profundamente ligada a mudanças de identidade e de postura diante da vida e que, muito provavelmente, o que eu sentia era resultado desse processo. Verdade ou não, a Carla passou grande parte da viagem dando dicas de saúde e de remédios naturais. Ela estudava medicina alternativa, além de trabalhar como enfermeira e atriz.
No trajeto, vez por outra podíamos observar lagos e pequenos riachos cortando as árvores na beira da estrada. Passamos por um que parecia um oásis no meio da floresta e os nossos olhos se encheram de lágrimas ao contemplá-lo. Era tão bonito ver aquilo. De repente a Carla olhou pela janela e me perguntou se eu também estava emocionada. Aqui eu sinto como se uma grande mãe me abraçasse, ela me disse. Assenti com a cabeça e ficamos em um profundo silêncio.
Duas horas depois, quando chegamos ao município, paramos para comer um lanche na beira da rodovia e, em seguida, pegamos um mapa no Centro de Atendimento ao Turista (CAT) com a rota das cachoeiras. Quase ao mesmo tempo apontamos para a foto de uma gruta e decidimos que iríamos para lá. Procuramos informações sobre a sua localização, mas nada. O folder não explicava. Negociamos com um taxista e perguntamos como se chegava ao local, mas ele também não sabia. Desapontadas, resolvemos que iríamos à caverna mais próxima, a gruta Refúgio do Maroaga.
Descemos do carro e vimos uma estreita trilha entre a mata. Quando nos preparávamos para a caminhada um menino, que estava em uma espécie de ponto de ônibus na estrada, disse que não poderíamos descer sem um guia. Desconfiadíssimas de que ele queria nos enrolar, respondemos que o CAT tinha liberado a nossa entrada – o que era verdade. Ele chamou uma moça que morava na casa atrás do ponto – até então não tinha reparado na residência – e, trajando um colete da Secretaria do Turismo, ela tentou nos convencer sobre a importância de incentivar o programa de jovens talentos na região, aceitando o trabalho do guia-mirim. Ela transmitia confiança e, como cada uma gastaria apenas cinco reais, aceitamos.
A trilha era fechada e o caminho bem tortuoso. O terreno era íngreme e tínhamos que nos equilibrar em troncos e pedras, dando as mãos para não cair. Mais de uma vez meu pé atolou por completo na lama para depois ser lavado em pequenos filetes de água que cruzávamos. O barulho do vento nas folhas das árvores produzia um som assustador. Em um desses momentos, quando olhava ao redor tentando identificar o barulho que ouvia, o guia disse, tranquilamente, que naquela região existiam muitas onças. Como assim, onças? E ele só falava agora, que estávamos no coração da floresta? Que ótimo, pensei. Mas aí lembrei que muitas pessoas em Manaus haviam me dito que era raro encontrar animais selvagens, já que eles se escondiam com medo dos seres humanos. Esse pensamento me deixou mais calma.
O corpo sentia sinais de cansaço quando começamos a distinguir o som da cachoeira. Aceleramos os passos e vimos uma queda d’água, linda, caindo por entre uma fileira de grutas e cavernas. Eu e a Claudia atravessamos as pedras correndo, tirando a roupa no caminho. Não havia sensação melhor do que aquela pressão gelada nas costas. Ficamos ali algum tempo, mas o guia nos indicou outra trilha por entre as águas. Sem ele, nunca adivinharíamos o que estava por vir.
Andamos mais um pouco com os joelhos completamente submersos e, quando alcançamos novamente a terra, ficamos descalças, sentindo o solo úmido. Aquela mistura de argila e areia era uma massagem em nossos pés cansados. Mais troncos, pedras e cipós pelo caminho. Por pouco a Val quase caiu, nos dando um susto. Depois de meia hora, mais ou menos, começamos a ouvir o som que já nos era familiar. Afastamos as folhas da nossa frente e não acreditamos no que vimos. Era a Gruta da Judéia, a da imagem do folder que ninguém soubera nos informar. Paramos, atônitas, olhando a queda que formava uma poça amarelada, rodeada de areia. Acho que foi uma das cenas mais bonitas que vi na vida.
Novamente ficamos de biquíni. Mergulhávamos e pulávamos dando gargalhadas, nos perguntando se aquilo era um sonho. De repente a Claudia parou e, boiando na água, mirou os meus olhos.
– Isso é que é vida de verdade, não o que a gente vive lá em São Paulo.
– Você tem razão – respondi, pensativa, olhando o céu.