sábado, 9 de fevereiro de 2008

Nos braços de Morfeu

Quando o viver se transformava em noite, Morfeu, o Deus dos Sonhos, a visitava. Durante o sono, presenteava a menina com rostos sempre mutáveis, verdadeiros enigmas a serem desvendados. Algumas noites ela acordava sobressaltada, corria pegar papel e lápis para aprisionar as lembranças. Certa vez interpelou um desconhecido que adentrou seus sonhos.
- Quem és tu?
- Você me conhece. E muito bem.
- Se eu te conhecesse não iria perguntar isso assim, à toa. Quem é você?
Mas quando a menina iria obter uma nova resposta, pronto! O despertador tocou um alto e sonoro pé pém pém. Não teve como prosseguir conversa, pois suas retinas abriram-se para saudar o sol.
Outra vez um novo intruso surgiu. Este entrou sem pedir licença e foi logo rodopiando a menina em seus braços. Exultava de alegria e só conseguia dizer:
- Embarquei na plataforma verde! Embarquei!
Desta vez a menina não queria acordar, nem desvendar as palavras do estranho. Queria apenas cantar de felicidade, contagiada que estava pelo riso do outro. Rodopiava e gargalhava. Rodopiava e brilhava. De repente, sentiu a boca sedenta por água e pronto! Lá estava novamente em seu quarto, de olhos abertos. Tratou de fechá-los o mais rápido possível e tentava, inutilmente, voltar para o mundo dos sonhos. Somente quando acordou de vez é que encasquetou com a charada.
- Que raio significa “embarquei na plataforma verde”? – dizia para si mesma.
De seu templo, Morfeu a observava ansioso. Será que ela nunca perceberia tantas dicas que ele lhe dava na forma de sonhos?

Michele Prado
Verão de 2008.