
Imagem: Observatório Europeu do Sul (ESO), retirada do G1.
Wolfgang Petersen, diretor do filme A História Sem Fim.
amizade é isso aí.
"Os seus problemas você deve esquecer
Isso é viver, é aprender...
Hakuna Matata!"
Uma camélia branca
... apenas para não esquecermos do símbolo do movimento abolicionista na luta contra a escravidão.
Quando a minha florescer, coloco uma imagem dela aqui.
Nada mais faz sentido: a lógica absurda de competir, construir uma carreira de sucesso, usar terno e um “pano colorido no pescoço”. Ter, ter e ter, quando tudo o que é preciso é ser.
Ser feliz, quem sabe, é morar em uma casa no campo, ter um emprego útil, livros, música, amar ao próximo, compartilhar a existência com alguém e filhos, talvez.
Pequenas dicas para melhorar a saúde do nosso planeta:
No ambiente de trabalho, as pessoas não precisam beber água naqueles copinhos descartáveis. Basta cada um ter uma garrafinha para encher d'água, levar pra mesa e beber o quanto quiser, até esvaziá-la e precisar repor o conteúdo no bebedouro.
Para tomar café a coisa funciona quase da mesma forma: cada um leva uma canequinha e zás! Além de ter uma xícara personalizada (escolhida por você mesmo), não há mais tantos copinhos plásticos no lixo.
Imprimir documentos desnecessários? Nem pensar! Imprima apenas aqueles que forem realmente imprescindíveis.
Pronto! Viu só como pequenas atitudes fazem a diferença? E nem vem falar que isso não funciona, porque dá certo, sim! Onde eu trabalho a gente faz tudo isso. E também nem adianta falar que é corte de gastos na empresa, porque a idéia partiu, por livre e espontânea vontade, dos funcionários.
Quer saber mais sobre consumo consciente? Clique aqui e vá para o site do Instituto Akatu.
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Comentário do dia: Depois do surto de dengue no Rio de Janeiro, da morte de um menino que caiu de um brinquedo no parquinho perto da minha casa e do caso Isabelle, só faltava ter tremor de terra em São Paulo (aliás, eu não senti).
No romance A síndrome de Ulisses, do colombiano Santiago Gamboa, a Paris dos subúrbios toma o lugar da Cidade Luz ao revelar a angústia dos viajantes, a maioria clandestinos, que vêem seus sonhos cederem lugar à dura realidade que os cerca. O jovem protagonista e narrador Esteban deixa a Colômbia para estudar na Universidade de Sorbonne e passa a ganhar a vida lavando pratos no porão de um restaurante enquanto cultiva o desejo de ser escritor.
O próprio Gamboa experimentou de perto essa realidade. Radicado na Europa há mais de 20 anos, deixou Bogotá para estudar em Madri e, logo em seguida, na França. Na ocasião em que esteve no Brasil, no lançamento do livro, afirmou, em entrevista, ser o livro um pouco autobiográfico. Segundo ele, para uma página parecer convincente é necessário que o autor tenha passado por certas situações que narra. Partindo dessa perspectiva, ele descreve o drama e até mesmo a beleza – por que não? – da vida longe da terra natal.
A cada vez que uma personagem adentra a história, surge um conto, recurso utilizado para descrever a trajetória daquele indivíduo como se fosse algo à parte, porém no contexto da narrativa. Existências intensas, guiadas pela sede de viver, tudo o que a vida oferece ou deixa de oferecer. O desejo de amar e ser amado, a saudade da pátria, o uso de drogas pesadas, a ingestão contínua de álcool, a avidez com que se entregam ao sexo e a cadência das palavras tornam-se expressões de um testemunho silencioso, pertencentes à pluralidade das línguas que se unem em busca de aconchego num país solitário.
O impulso mais nobre de todos, o desejo de ser escritor – o desejo que dominava minha vida –, era o impulso mais escravizante, o mais insidioso, e em certos sentidos também o mais corruptor, porque, refinado pela minha semi-educação semi-inglesa e ao deixar de ser um impulso puro, havia me dado uma idéia falsa da atividade da mente. O impulso mais nobre, naquele contexto colonial, tinha sido o mais castrador. Para ser o que queria ser, tive de deixar de ser ou sair daquilo que era. Para chegar a ser escritor tive que me desprender de muitas das primeiras idéias unidas à ambição e ao conceito de escritor que me tinha sido dado pela minha semi-educação.
Neste trecho de O Enigma da Chegada, de V.S. Naipaul, ganhador do Prêmio Nobel em 2001, o autor caribenho martela a cabeça do narrador em determinada passagem. É preciso partir do lugar em que nasceu e romper com o passado para tentar uma nova oportunidade? O que motiva essa busca? O que fazer quando sobreviver torna-se uma luta diária? A resposta para essas e outras questões só podem ser encontradas dentro de cada um de nós. No entanto, guiadas pela crença de dias melhores, milhares de pessoas continuam arriscando a sorte em terras estranhas. Se por um lado a permanência é sofrida, por outro o regresso às origens torna-se ainda pior: é a personificação da derrota.
“Vidas iluminadas pela intensidade de suas desgraças”, aponta o prefácio do livro de Gamboa. Cutucam o estômago, remexem feridas. É a síndrome de Ulisses.
A síndrome de Ulisses
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por Santiago Gamboa
Editora Planeta
376 pgs.
$39,90
Edição comemorativa de Cadernos Negros marca três décadas de negras palavras*
Michele Prado
No ano de 1978, um grupo de pessoas vinculadas à escrita freqüentava o Centro de Cultura e Arte Negra [Cecan], no bairro do Bixiga, em São Paulo. Dentre elas, a dupla formada pelo poeta Luiz Silva [pseudônimo Cuti] e pelo advogado Hugo Ferreira propôs a criação de uma antologia literária com composições em versos. No mesmo ano, oito autores uniam-se para publicar os Cadernos Negros.
Passados 30 anos da publicação das 52 páginas no tamanho brochura [10x14,5cm] do primeiro Caderno, o Quilombhoje – grupo de escritores paulistanos que tem como objetivo discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura – lança uma edição histórica que reúne contos e poemas de 35 autores publicados durante o período. Cadernos Negros – Três Décadas traz ilustrações das capas anteriores, índice com o nome dos autores que participaram desde o primeiro exemplar, além de fotos que marcaram os eventos de lançamentos e uma coletânea constituída por análises da série.
Quilombhoje foi fundado, no final da década de 70, por Cuti, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues, dentre outros. A sigla do grupo é um neologismo que inclui a retomada histórica do quilombo com a palavra “bojo”. Ou seja, é uma literatura que está no bojo de um movimento maior, o Movimento Negro Nacional.
Atualmente, com a aplicação da Lei 10.639 de 2003, que obriga o ensino da história e da cultura do negro no Brasil, surgiu à tona uma polêmica discussão sobre a chamada Literatura Negra ou Afro-Brasileira. O que é Literatura Negra? A questão étnica é fator primordial na classificação dos autores? Como trabalhar e difundir essa Literatura? Segundo a atriz e escritora Cristiane Sobral, a Literatura Negra representa o negro de uma maneira diferente de como ele é apresentado no mercado. “Deixa de ser ‘um negro’ e passa a ser ‘o negro’”, explica.
Para compreender o que Cristiane afirma, basta lançar um olhar mais atento à representação do negro na mídia, constantemente carregada de preconceitos e estereótipos. Em um país multirracial como o Brasil, a cor da pele ainda influi na maneira como a sociedade estigmatiza as pessoas.
De acordo com Esmeralda Ribeiro, jornalista, escritora e atual coordenadora do Quilombhoje – ao lado de Márcio Barbosa –, “a mulher ainda é vista como empregada doméstica, apesar do alto cargo que possa ter”. Esmeralda conta que, durante um lançamento, foi interpelada com a seguinte questão: “Você copia de onde suas poesias?”. A pergunta, um tanto quanto grosseira, foi desferida por uma senhora que não acreditava que uma negra fosse capaz de dominar com maestria a linguagem literária. “É um desafio trabalhar a mulher e o ser negro. Ainda somos vistas como inferiores”, conta.
Se tomarmos por regra que os textos da Literatura Negra são escritos produzidos pelos negros sobre os próprios negros, desde o século XVIII então despontam escritores que retrataram sua vivência em versos. Como exemplo, Domingos Caldas Barbosa, Luís Gama, Cruz e Souza, Lino Guedes, Auta de Souza, Solano Trindade, dentre outros. Portanto, o termo “Literatura Negra” foi criado para dar nome há algo que já existia. “Sempre existiu. Apenas damos um olhar mais contemporâneo”, afirma Esmeralda.
Desde 1983, a organização e editoração dos Cadernos estão a cargo do Quilombhoje. Isso tem permitido que autores de todo país lancem seus escritos pela editora que leva o mesmo nome. A despeito da ampla divulgação nos meios alternativos, acadêmicos e militantes, a publicação ainda passa por dificuldades para bancar sua produção anual. Semelhante a um processo cooperativo, o grupo arca com parte dos recursos, e a outra parte é dividida pelos autores participantes.
A venda dos livros é realizada principalmente no lançamento de cada volume. Este filão, que não é oferecido pelo mercado editorial, já abriu portas até para a divulgação da produção brasileira no exterior. Foi publicada uma versão em inglês dos Cadernos Negros pela Africa World Press, nos Estados Unidos, em comemoração aos 30 anos de existência da série.
A literatura propicia a formação da identidade e da opinião do leitor. Neste caso, torna-se uma forma de resistência, um centro de transformação social. Partindo deste ponto, não restam dúvidas quanto à importância dos Cadernos Negros não só para a literatura, mas para a história brasileira. “Estamos libertando a palavra do pelourinho”, versa a poesia de Cuti. Que assim seja e continue a ser.
Cadernos Negros – Três Décadas